O Longo Caminho até o 11 de Setembro

O Longo Caminho até o 11 de Setembro
A verdadeira história do 11 de setembro

quinta-feira, 30 de maio de 2013

A Trajetória dos Falcões.


          Eis a trajetória e os interesses de George W. Bush, Colin Powell, Dick Chenney, Condoleezza Rice e Donald Rumsfeld:

Uma porta giratória entre o público e o privado. Entre interesses difusos em relação ao Oriente Médio e lucros, participações e fortunas construídas em negócios com empresas de petróleo. Assim é visto, por muitos críticos, o chamado gabinete de guerra do republicano George W. Bush, máquina montada à sombra do pai, o ex-presidente George Bush (89 – 92). Por outro lado, o time de Bush filho é visto também como um exemplo bem acabado da América corporativa. De homens de sucesso preocupados não com a hegemonia e a segurança dos Estados Unidos. Mas, sim com a deles. Eles se apresentavam como patriotas duros e inquietos, a ponto de estarem dispostos a repetir uma guerra considerada não terminada há muitos anos. Bush filho e Bush pai têm muito em comum: vocação para os negócios com petróleo, a preferência pelo mesmo tipo de assessores bem sucedidos e uma grande sensibilidade em relação a Saddam Hussein e ao Oriente Médio. Além de ter seguido o pai nos negócios, Bush filho herdou do progenitor a parte mais influente de seu governo. O vice-presidente Dick Chenney, e dois dos mais importantes colaboradores, o secretário de Estado, Colin Powell, e a assessora de Segurança Nacional, Condoleezza Rice, trabalharam para Bush pai. Assim como o atual secretário-adjunto de Defesa, Paul D. Wolfowitz, considerado o mais “linha-dura” da administração de George W. Bush.
Como o pai, George W. Bush empreendeu grande parte de sua vida empresarial trabalhando em empresas do ramo de petróleo. No início dos anos 90, foi diretor da Harken Energy, no Texas, terra natal do óleo e da família Bush nos EUA. Dos seus negócios à época, o mais polêmico foi quando vendeu, há alguns anos atrás, US$ 848 mil em ações, dois meses antes de a Harken reportar um inesperado prejuízo.
George W. Bush, assim como Reagan, se define, a si mesmo, como um “homem com perspectiva ampla e grandes idéias”. Ele gosta de formulações originais
O petróleo irriga também a biografia de Chenney. O vice-presidente Dick Chenney, era o secretário de Defesa de George Bush pai quando os EUA atacaram o Iraque na Guerra do Golfo, em 1991. Embora tenha ganhado a guerra, Bush pai perdeu a eleição mais à frente, emaranhada em números ruins na economia doméstica. Imediatamente após a derrota do chefe, Chenney partiu para a iniciativa privada, na direção de companhias que tinham interesse no petróleo do Oriente Médio. Em 1995, tornou-se presidente da Halliburton, a maior companhia do mundo em serviços relacionados a petróleo, também com sede em Dallas, no Texas. Coincidentemente, a Halliburton foi uma das empresas que mais se beneficiaram dos contratos para a reconstrução do Kuwait, libertado do Iraque pala máquina de guerra do então secretário Chenney. Entre 1996 e 1999, a Halliburton também obteve contratos diretos do Pentágono que somaram cerca de US$ 1,8 bilhão para a construção de infra-estrutura dirigida a intervenções americanas no Haiti, na Bósnia e no Kosovo. Por seu trabalho de cinco anos na Halliburton, Chenney teria acumulado US$ 39 milhões entre salários e ações.
Condoleezza Rice, Assessora de Segurança Nacional, teve trajetória semelhante. Embora pertença a Colin Powell o cargo de secretário de Estado de Bush filho, é Condoleezza quem leva a fama de ter acesso aos ouvidos do presidente. Depois de Chenney, é a pessoa com mais influência sobre Bush, ocupando escritório na Casa Branca bastante próximo ao Salão Oval. Para Bush pai, Condoleezza serviu no mesmo departamento que comandou com Bush filho, dando conselhos sobre a Rússia (ela fala a língua fluentemente) e Leste Europeu. No setor petrolífero, trabalhou de 1991 a 1993 na Chevron Oil, que recentemente batizou, orgulhosamente, com o nome Condoleezza, um de seus maiores petroleiros.
Também envolvido em negócios lucrativos e egresso do governo Bush pai, e que foi secretário de Estado de Bush filho, Colin Powell, saiu com fama de herói da guerra contra o Iraque em 1991. Soldado profissional por 35 anos até chegar a general de quatro estrelas e comandar as Forças Armadas americanas, de onde gerenciou a guerra contra os iraquianos, Powell é considerado um exemplo de “afro-americano” que subiu na vida. Criado no sul do Bronx, em Nova York, e filho de imigrantes jamaicanos, Powell revelou sua saga em 1995 na biografia “My American Journey” (Minha Jornada Americana). O livro alcançou um sucesso de vendas digno de desempenho de seu autor no mundo dos negócios. Powell trabalhou durante anos como membro da direção da gigante de serviços de internet America Online (AOL), onde teria começado a acumular uma fortuna estimada em US$ 50 milhões em ações de empresas de comunicação e tecnologia. Além do próprio cargo, Powell teve no governo Bush, seu filho, Michael, como presidente da Comissão Federal de Comunicação. Embora a controvertida fusão entre a AOL e a Time Warner tenha sido aprovada em 2000, antes do início do governo Bush, muitos democratas viram uma influência de Michael Powell em decisões regulatórias que favoreceram a AOL, recentemente. No campo de batalha, Powell ajudou a comandar, também, a invasão do Panamá, em 1989, para depor e prender o ditador Manuel Antônio Noriega, que os próprios EUA haviam ajudado a subir ao poder.
Também com passagens bem sucedidas no setor empresarial, Donald Rumsfeld presidiu duas das 500 maiores companhias listadas pela “Fortune”, a farmacêutica G. D. Searle (a que desenvolveu o vírus da gripe H1N1 e que vende sua vacina) e a empresa de tecnologia General Instrument. Com uma fortuna pessoal estimada em quase US$ 150 milhões em ações e participações em empresas de energia, internet e biotecnologia, Rumsfeld manteve o padrão do governo. Mas, ironicamente, pesa contra ele o fato de ter ajudado a criar Saddam Hussein. Trabalhando como assessor especial para o ex- presidente Ronald Reagan (1981 – 1989) no início dos anos 80, Rumsfeld visitou pelo menos duas vezes o Iraque do então chamado “presidente” Saddam Hussein. O objetivo era estreitar relações e dar suporte ao país durante a guerra Irã-Iraque (1980 – 1988), com americanos a favor de iraquianos. Donald Rumsfeld sabia dos planos de Saddam para construir armas químicas e biológicas e nada fez para impedi-lo. Depois de trocar sorrisos e apertos de mãos com Saddam, os EUA reataram, em 1984, relações diplomáticas com o Iraque, rompidos desde 1967. Ao final da guerra com o Irã, os iraquianos receberam ainda ajuda financeira e aval dos americanos para conseguir empréstimos. O objetivo declarado dos EUA no episódio todo foi o de “manter a presença americana no Oriente Médio e resguardar as reservas de petróleo na região”. Essa foi a Segunda passagem de Rumsfeld pelo Pentágono. No governo de Gerald Ford (1974 – 1977), assumiu a defesa do país com a missão de reerguer o moral das tropas após o fracasso no Vietnã. Conhecido por sua preferência por equipamentos militares caros e sofisticados, Rumsfeld é um dos maiores incentivadores de projetos como o escudo antimísseis, conhecido como Guerra nas Estrelas e de controvertidos caças-bombardeiros para a Força Aérea americana. Entre seus feitos, há ainda o fato de ter ajudado a acabar com as “limitações infligidas aos EUA” pelo tratado antimísseis balísticos, conhecido como ABM, de 1972, que previa a redução do arsenal atômico no mundo. Rumsfeld possui uma visão muito particular sobre a reforma militar. Desde fevereiro de 2001, ele vinha tentando tornar as forças armadas mais ágeis, eliminando tanques e artilharia pesada e aumentando o número de aviões teleguiados (Drones), helicópteros e unidades de operações especiais. Como a inércia do Pentágono, do Congresso e das empresas demonstrava ser muito forte, só havia uma solução: O caminho da guerra.
Outro personagem do gabinete de guerra de Bush filho, saído das hostes do pai, Paul D. Wolfowitz, secretário-adjunto de Defesa, é tão discreto quanto belicoso em relação a países suspeitos de abrigar terroristas. Foi um dos únicos a defender públicamente, em 1991, a invasão de Bagdá e a deposição cabal de Saddam Hussein. Na época, as idéias de Wolfowitz, então assessor de Chenney no Departamento de Defesa, foram contidas pela ação diplomática interna do general Colin Powell, então chefe das Forças Armadas. Powell temia uma ebulição descontrolada nos países árabes vizinhos ao Iraque caso isso ocorresse. O maior temor não era em relação à retirada de Saddam, mas à ocupação maciça de tropas norte-americanas em uma das regiões mais sensíveis do mundo, completamente dominada pelo islamismo.


Do Livro: O Longo Caminho até o 11 de Setembro.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Os Planos das Aves de Rapina na Casa Branca.


Em meados do ano de 1998, Wolfowitz e os falcões do governo de George Bush, escreveram um documento solicitando ao presidente Bill Clinton que detivesse o ditador iraquiano Saddam Hussein. O documento foi assinado por Donald Rumsfeld, Dick Chenney, Condoleezza Rice e muitos outros republicanos da antiga administração. Foi por esta ocasião que Hussein expulsou os inspetores de armas da ONU, do Iraque.
Neste mesmo momento, os republicanos se reuniram em Hunston, no Texas, para elaborarem as estratégias para a candidatura de um republicano, George Walker Bush. A política seria o estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial, com intervenções em vários locais ao mesmo tempo, abandonando a política de apaziguação, até então, adotada pelo governo Clinton junto a ONU. O poder americano deveria ser usado para mudar o mundo, não apenas para mera manipulação.
De acordo com os planos, cuja finalidade, além de destruir a imagem do governo democrata e, particularmente, do presidente Clinton, era a de camuflar o início das operações secretas que mudariam para sempre, as relações que a América mantinha com as Nações Unidas, no comércio e nas relações exteriores com as demais nações.

Wolfowitz estava determinado a introduzir sua doutrina no próximo governo, ela seria o Relatório de Segurança Nacional, mais tarde Doutrina Bush, reunida em um documento onde se poderia ver claramente muito do que ele já havia escrito anteriormente. Postura agressiva e enérgica com justificativas para ataques preventivos, que se encontravam escondidos nas entrelinhas do documento. Sua base seria democratizar o mundo a começar pelo Oriente Médio (Iraque, Irã, Paquistão, Egito, Síria, Afeganistão e Líbia) incluíndo Coréia do Norte e Cuba. Para os falcões, o que importava era a liderança americana na redemocratização do mundo.

Do Livro: O Longo Caminho até o 11 de Setembro.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O`Neill versus Osama


Osama bin Laden emitiu uma Segunda “fatwa” em 1998, conclamando ataques contra civis norte-americanos. Novamente os Estados Unidos pediram ao Afeganistão a extradição de Laden. Diante da negativa, como era de se esperar, espalharam cartazes de “procura-se” pelo Oriente Médio e ofereceram uma recompensa de 5 milhões de dólares por sua captura.
           O governo americano ciente de que deveria monitorar esta situação, lançou mão de novos recursos tecnológicos. Assim, em 28 de fevereiro de 1998, o Drone Global Hawk, um veículo aéreo autônomo, de Raytheon completa seu primeiro vôo sobre a base Edwards Air Force, na California a uma altura de 9.600 metros que é a altura de cruzeiro dos aviões comerciais.

No mês de julho, em uma reunião secreta em Kandahar, Afeganistão, de membros da coroa saudita e do Taleban, um acordo de ajuda ficou estabelecido. Entre os presentes estavam o príncipe Turki Al-Faizal Al-Saud, então diretor do Istakhbarat, Aziz Mahmoud Ahmad chefe do serviço secreto do Paquistão, o ISI, bin Laden e Mohamed Omar, líder do Taleban. O pacto estabelecia que bin Laden não usaria suas forças do Afeganistão para subverter o governo saudita. Em troca, os sauditas concordavam em assegurar que os pedidos para detenção de membros da Al-Qaeda e exigências para fechar campos de treinamento afegãos, por parte de terceiros países, não seriam atendidos. Para reforçar o acordo, os sauditas se comprometeram a fornecer petróleo e ajuda financeira tanto para o Taleban, quanto para o Paquistão. Ao grupo de Osama, seria fornecida uma quantia em torno de US$ 340 milhões.
O’Neill e sua equipe, aos poucos foram delineando a imensa teia de terror. Descobriram que as organizações terroristas são muito semelhantes às empresas modernas. Organizadas em células, essas redes se mantém ligadas a uma matriz virtual e mutante, podendo estar, a qualquer hora, em qualquer lugar do mundo. Seja nas montanhas do Afeganistão, ou em uma grande metrópole ocidental. As operações são locais e autônomas. Possuem, em sua grande maioria, independência para escolher os próprios alvos, arrecadar fundos para estruturar suas ações e estão conectados ao alto comando, tanto por mensagens criptografadas, transmitidas pela internet, quanto por meio de recados pessoais. Podem ficar inativas por anos, estruturando-se de acordo com a importância da ação. Os investigadores estimaram a existência de pelo menos quatro mil colaboradores espalhados por cerca de 40 países, entre eles os Estados Unidos. Determinaram, ainda, que Osama bin Laden, no topo das organizações, é seguido por um conselho de três grandes divisões: finanças, religião e assuntos militares. A rede é quase invisível, articulada, flexível, disseminada e obstinada até a morte. O que garante muitas vantagens sobre a estabilidade, a rotina e a visibilidade do alvo inimigo. A Al Qaeda conseguiu montar a sua teia através de alianças ou parcerias, entre os vários movimentos extremistas islâmicos ou separatistas como o Jihad egípcio e os curdos da Turquia. Entre os membros do conselho consultivo, estão os representantes dos grupos extremistas. Com essa estratégia, Laden ganhou o que precisava: legitimidade e abrangência geográfica.
Neste ponto das investigações, um novo nome começou a aparecer com muita freqüência, no círculo mais influente das organizações: Ayman Al-Zawahiri. Egípcio, formado em medicina. Ele viria a ser conhecido como o grande inspirador e mentor de Osama. Para O’Neill, ficou claro que as células recebem um investimento inicial e daí para a frente, ela é responsável para fazer crescer esse dinheiro, que financiará a concretização do atentado. Em alguns casos, conforme os agentes puderam verificar, o resto da quantia necessária ao funcionamento da célula, vem através de operações fraudulentas com cartões de crédito, isto é, os terroristas especialistas, utilizam alta tecnologia do mundo do crime organizado, compartilhando recursos, tecnologia, capital e conhecimentos específicos. Isto significa que utilizam os princípios da globalização, tal como Paul Wolfowitz descrevia em sua doutrina. Existe ainda, a lavagem de dinheiro com envolvimento em negócios ilegais. Tais como: contrabando de urânio enriquecido, venda de armas e ópio. Essas atividades, mais o esquema de arrecadação de fundos entre simpatizantes do extremismo islâmico, eram os principais sustentáculos da rede Al Qaeda. O que mais impressionou os agentes foi o fato de que Laden jamais reivindicou a autoria das brutalidades que levam a sua marca. Assassinou, massacrou e amedrontou, mas se manteve nas sombras, renunciando ao narcisismo que costuma caracterizar as ações terroristas. Esta era uma conduta que O’Neill acabaria por compreender, à proporção que as investigações fossem avançando.

Durante algumas entrevistas concedidas à imprensa inglêsa e a americana, Laden declarou: “A toda ação, corresponde uma forma de reação.” “Os americanos nunca fizeram distinção entre civis e militares. Eles não jogaram a bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki? Não apoiaram os massacres de crianças e adolescentes, na Palestina?”

Do Livro: O Longo Caminho até o 11 de Setembro.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ahmad Shah Massoud - O leão de Panjsher


O lendário comandante tadjique, Ahmad Shah Massoud, era de longe a figura de maior visibilidade da Aliança do Norte. Homem de grande carisma e de uma liderança sem igual, Massoud sempre foi um nacionalista. Sua preocupação, acima de qualquer outra coisa, era o povo afegão. Possuía uma base de refúgio e de operações, um baluarte da resistência, que se encontrava no vale Panjsher, ao norte da capital Cabul. Para ele, o maior inimigo da Aliança, era o ISI, pois fôra quem havia criado o Taleban e o patrocinava na conquista do Afeganistão. Este serviço secreto, não era apenas um ponto de apoio logístico para os talebans. Ele contribuía recrutando nas madrassas paquistanesas, de onde saíam mais de 60% da liderança taleban, milhares de fundamentalistas inflamados, como voluntários nas batalhas dos extremistas talebans contra a Aliança e, ainda, por meio de apoio financeiro, incluindo equipamentos militares e grandes reservas de combustível.
Massoud, o líder da Aliança, tinha o apoio da Rússia (que era sua ex-adversária), que acusa o Taleban de exportar o extremismo islâmico para, entre outros locais, a República separatista russa da Chechênia. As ex-Repúblicas soviéticas do Tadjiquistão e do Uzbequistão, também apóiam a Aliança.
A aliança do Norte conta com um exército regular de 15 mil homens. No vale Panjsher e na frente de batalha, o grupo mantém vários, talvêz centenas de tanques e carros blindados. Possuem também vários lançadores de foguetes Katyusha e helicópteros soviéticos já envelhecidos. Ela ocupa o aeroporto de Bagram. Contudo, a Aliança do Norte obtinha recursos, para a guerra contra o Taleban, provenientes da produção de ópio, isso depois que o Taleban impôs medidas de repressão ao cultivo das papoulas. A Aliança chegava a produzir em torno de 120 e 150 toneladas de ópio. Sendo responsável por aproximadamente 70% da produção mundial.
Estes guerrilheiros são praticamente ignorados pela comunidade internacional e por isso, o general Massoud nunca esperou nenhum apoio externo. Quando não estava em combate, Massoud percorria os acampamentos de refugiados afegãos levando água, mantimentos, remédios e seu médico pessoal, para cuidar dos necessitados. Ele dormia muito pouco e, às vezes, ficava dias acordado. Durante as batalhas, preocupava-se muito com os seus combatentes. Os mais jovens, procurava não colocá-los nas frentes de combates. Quando um jovem morria, vítima de combates, de emboscadas ou de minas terrestres, Massoud ficava muito triste e procurava levar conforto pessoalmente à família do mesmo. Raramente ele era visto sorrindo. Seu semblante, sempre firme, inspirava confiança. Sua voz era calma e pausada quase nunca elevava o seu tom. Aqueles que o conheciam tinham por ele grande respeito e admiração. Era um patriota, um nacionalista e, para ele o Afeganistão e seu povo eram de inestimável valor.
Certa vez, Massoud declarou que seu maior sonho era ver o Afeganistão em paz. Por toda sua dedicação a seu povo, Massoud acabou conquistando a atenção da imprensa internacional, que produziu valiosíssimos documentários sobre sua luta na Aliança do Norte. Entre os jornalistas estrangeiros que o acompanhavam, Massoud fez muitos amigos. Entre eles, o jornalista francês, Christophe de Pontilly, que o acompanhava a alguns anos, tornando-se um amigo próximo.
Quando bin Laden se fixou no Afeganistão, Massoud percebeu que seus objetivos eram os mesmos que os dos talebans e os do Serviço de Inteligência paquistanês. Ele sabia sobre a enorme necessidade que o regime dos talebans tinha de conquistar apoio internacional, já que apenas o Paquistão, a Arábia Saudita e os EUA o reconheciam como legítimo. Desta forma, havia aí uma incoerência gritante, pois, já que o governo árabe retirara a cidadania de Laden e o expulsara do país, além de o mesmo ser procurado pelo governo americano por terrorismo internacional. Assim sendo, a coroa saudita jamais poderia concordar que o regime dos talebans o recebesse. Se isto havia ocorrido, algo estava errado. Massoud desconfiava que algo vultoso estivesse sendo preparado e por isso ficou muito preocupado. Ele imaginava que talvez o Taleban fosse iniciar uma nova ofensiva contra a Aliança.

Massoud realmente estava certo, pois, pouco tempo depois que Laden e sua Al Qaeda fixaram-se no Afeganistão, os talebans expandiram seus domínios, chegando a 90% do país.

No dia 9 de setembro,  Comandante Ahmad Shah Massoud, sofreu um atentado terrorista a bomba, do qual morreria mais tarde, em 19 de setembro, após entrar em um coma profundo em conseqüência dos ferimentos sofridos no ataque. A Aliança do Norte, em um comunicado oficial, confirmava o atentado de seu líder e, ainda, acusava o eixo ISI-Osama-Taleban, nos seguintes termos: “Um eixo de ISI-Osama-Taleban, por intermédio de árabes terroristas, fingindo passar-se por jornalistas, detonaram explosivos presos secretamente em seus corpos, deixando assim, Massoud gravemente ferido... Nós acreditamos tratar-se de uma obra perpetrada pelo triângulo Osama bin Laden, ISI e Taleban”. Mais tarde, tanto bin Laden quanto o Taleban, alegariam o seu papel no atentado a Massoud. A mídia ocidental ficou muda em relação ao insidioso papel da Inteligência Militar do Paquistão. A imprensa apenas mencionou o atentado, mas nenhum especialista político ou militar notou o significado do atentado. Massoud estava fora dos planos do governo americano e do Paquistão, para um futuro governo afegão, pós-Taleban. Uma vez que o Taleban não concordaria com o oleoduto cruzando o Afeganistão, deveria ser classificado como inimigo e removido. Este seria um dos motivos pelos quais os atentados de 11 de setembro deveriam acontecer. A construção de um oleoduto que sairia das jazidas do Cazaquistão ou do Turcomenistão, próximas ao Mar Cáspio, passaria pelas cidades de Herat e Kandahar, no Afeganistão, entraria no Paquistão por Quetta e terminaria no porto de Karachi. Daí, o petróleo e o gás seriam facilmente embarcados rumo aos EUA, tirando a China e a Russia da jogada, além de evitar as águas conturbadas do Golfo Pérsico que já foram palco de violentos enfrentamentos. O custo da obra giraria em torno dos 2 bilhões de dólares e daria acesso a reservas de petróleo 33 vezes maiores que as do Alasca e a uma quantidade de gás natural estimada em 50% do total já descoberto a nível mundial.

Do Livro: O Longo Caminho até o 11 de Setembro.

terça-feira, 21 de maio de 2013

As advertências de John P. O´Neill



Entre os anos de 1996 e 1997, O´Neill começou a advertir às agências de segurança americanas sobre as ameaças crescentes do terrorismo. Ele alertou que grupos modernos de células terroristas, operando dentro de dezenas de cidades dos Estados Unidos, aparentemente não estavam sendo vigiados pelo governo. Indicou que se tratavam de veteranos rebeldes da guerra contra a ocupação soviética, no Afeganistão e que, outrora aliados, agora se tratavam de uma ameaça real e imediata. No ano de 1997, John viajou para Nova York e assumiu o escritório do FBI como responsável pela segurança nacional e contraterrorismo. Nesta época, ele já estava obcecado por Osama bin Laden e conhecia suas ligações com o serviço secreto árabe e a coroa saudita. Sabia que havia uma forte pressão, por parte da liderânça da seita islâmica puritana dos wahabitas para que as bases e os soldados americanos fossem removidos da Arábia Saudita. Sabia, ainda, que membros da CIA e pessoas muito importantes do Departamento de Estado estavam elaborando um plano, em conjunto com os árabes, para a solução final do problema. Infelizmente, O´Neill não conhecia tais planos.

O Discurso de John Patrick O´Neill


Durante o mês de junho de 1997, John P. O´Neill proferiu um discurso durante o Fórum de Estratégia Nacional, na cidade de Chicago. Após vários elogios acerca do qual ele considerava ser o melhor departamento de polícia dos Estados Unidos, O´Neill foi direto ao objeto de sua apresentação: o terrorismo doméstico.
“A definição de terrorismo, em sua forma simplificada é o uso da violência ou da ameaça de violência, para se obter vantagens sobre uma agenda política ou social”. Citou, como exemplo, o atentado na cidade de Oklahoma.
O´Neill comentou que o governo americano possuía um programa para o terrorismo internacional, que tratava dos atos de violência com motivação política ou social, nos negócios com indivíduos estrangeiros ou os interesses americanos no exterior. Para John, o que motivava grupos terroristas a atacarem americanos, sempre seria sua política ou sua agenda social no exterior. Neste caso, o terrorismo internacional havia feitos ataques duros, com perdas de vidas americanas em lugares como Dhahram, na Arábia saudita, nas torres Khobar, e nos Estados Unidos, como o atentado ao World Trade Center, em 1993, na cidade de Nova York. Desta forma, os atos do terrorismo internacional passaram a acontecer dentro do território americano, “em suas praias”, ao contrário da forma como o programa de contraterrorismo havia se preparado, isto é, um ato de terrorismo doméstico, até então era encarado como uma edição de ataques aos interesses americanos em Londres, por exemplo.
Para um público altamente especializado e cada vez mais interessado, John expôs que os atos do terrorismo haviam mudado e que, embora eles dispusessem de várias ferramentas de combate, uma das mais importantes seria a diplomacia. O governo americano utilizava seu Departamento de Estado nas suas tentativas de diplomacia, pelo mundo, para fazer acordos, tratados e convenções com muitos países, a fim de minimizar a possibilidade de ataques terroristas. Mas existiam aqueles países com os quais não negociavam, por tratar-se de nações visivelmente hostis ao povo americano. A estas nações, a América, em conjunto com as Nações Unidas, exercia fortes sanções econômicas; eram elas: Iraque e Líbia. No caso da Líbia, por sua alegada participação no desastre do vôo 103 da Panam, e do ataque a uma discoteca em Berlim, onde estavam soldados americanos. Por conta disto, além das sanções, o governo americano utilizou ações militares secretas contra sua capital, Trípoli.
Para a nova modalidade de terrorismo doméstico, O´Neill apresentava uma nova ferramenta de combate que era a união do setor público com a sociedade civil para juntas, tentarem enfrentar a nova ameaça. Ao governo caberia criar um órgão confidencial que receberia denúncias da população, com relação a indivíduos suspeitos. Este órgão, em sigilo, colheria informações a respeito dos indivíduos denunciados a fim de identificar um provável grupo com intenções hostis. John insistiu na importância e na necessidade do ativismo das comunidades, para ajudar a combater os atos terroristas. Outro ponto para se prevenir de ataques seria um exame atento aos lugares lógicos, onde os terroristas poderiam atacar. Um exemplo clássico seria a própria Casa Branca. Um ataque a este tipo de lugar seria visto como um incentivo a outras ações e isto exigiria uma resposta maciça, que traria sérias conseqüências para o modo de vida americano.
Na visão de John P. O´Neill, o FBI era uma agência de ligação para o terrorismo nos Estados Unidos e isto havia ficado claro nos casos de Waco e Oklahoma. Desta forma, para um público atônito, O´Neill pediu uma reflexão interna, por parte das autoridades presentes. Contudo, o mais importante seria que todos olhassem para esta nova modalidade de terror que havia chegado às praias americanas. Tratava-se de uma ameaça significativa e muito particular, que poderia trazer tragédias maiores que a da cidade de Oklahoma.
O´Neill explicou que, por ocasião do atentado ao World Trade Center, em 1993, o FBI e a maioria da comunidade dos serviços de inteligência, apostaram suas fichas nos estados que patrocinavam o terrorismo, seriam eles: Irã, Iraque, Líbia, Síria e Sudão. Contudo, com o avançar das investigações, dolorosamente, foram descobrindo um novo reinado de terror, que crescia em belos lugares, em nações aparentemente amigas, mas que possuíam algum tipo de extremismo religioso, como o Egito, o Paquistão, o Kuwait e a Arábia Saudita. Os indivíduos que foram localizados, em muitos casos, moviam-se com liberdade através de brechas nas leis americanas. Eram guiados por uma Jihad (guerra santa), uma opinião que vai contra toda nação ou estado democrático. Eles podem rápidamente formarem-se em grupos e, da mesma forma, dispersarem-se. Haviam, neste  contexto, outros teatros desta guerra santa, como: Afeganistão, Sudão do Sul, Argélia, que haviam estendido seus conflitos para países como a França, a Bósnia, a Chechênia, a Caxemira e algumas áreas na América do Sul. Esta nova visão se deu a partir do atentado ao WTC. Desta forma, O´Neill mostrava como as coisas haviam mudado nos últimos anos. Nenhum Estado inteligente se disporia a atacar uma nação com tamanha superioridade militar, como os Estados Unidos. A única forma de causar algum dano a América, seria com atos terroristas em seu próprio território.
Outro exame interior que O´Neill solicitou foi o histórico, pelo qual, durante  centenas de anos, o extremismo radical ocidental levou as culturas européias às cruzadas. Aliás, as cruzadas em si continuam sendo uma vertente significativa para os movimentos extremistas islâmicos, justamente por terem assassinado milhares de mulheres e crianças muçulmanas. Mesmo nos dias de hoje estes assassinatos continuam ocorrendo por parte do estado de Israel contra os palestinianos.
John P. O´Neill abordou a questão recente da invasão soviética ao Afeganistão. Quando finalmente, depois de dez anos, as forças de ocupação retiraram-se daquele país, os guerrilheiros das diversas nações árabes acharam que se haviam conseguido vencer uma das mais poderosas forças militares do mundo, não deveria ser impossível vencer o Estado sionista e seu maior aliado; os Estados Unidos. Curiosamente, estes guerrilheiros haviam sido treinados em insurgências e táticas de guerrilha, pelo próprio governo americano e, após terem retornado para seus países de origem, estavam sendo reconvocados por uma nova rede global de terrorismo, para uma nova Jihad.



Do Livro: O Longo Caminha até o 11 de Setembro.


segunda-feira, 20 de maio de 2013

John Patrick O´Neill - O Melhor do Contraterrorismo



John Patrick O´Neill nasceu no ano de 1952, mas foi com idade adulta que ele teve o desejo de tornar-se um agente especial do FBI. Quando jovem, seu programa favorito de televisão era “FBI, o drama do crime”, série baseada em casos verídicos que o Departamento havia investigado. Em 1971, O´Neill entrou para uma universidade em Washington, Capital. Uma vez lá, Começou a trabalhar nas matrizes do FBI. Primeiramente como coletor de impressões digitais e, mais tarde, como guia de excursão. Em 1974, colou grau em administração de justiça e, pouco depois, obteve o Mestrado em Ciência Forense, na Universidade de George Washington. E foi no ano de 1976 que O´Neill tornou-se um agente do FBI. Nos quinze anos seguintes, trabalhou em casos como: crimes do colarinho branco, crime organizado e contra-informações estrangeiras. No ano de 1991, recebeu uma promoção importante e foi para o escritório de campo do FBI, em Chicago, como agente especial. Lá, John estabeleceu uma força tarefa num esforço para promover a cooperação e reatar laços entre o FBI e a Justiça local. Ainda, supervisionou a investigação da força tarefa no caso de uma clínica clandestina de aborto. Retornando a Washington, recebeu o cargo de chefe da seção de contraterrorismo, em 1995. Em seu primeiro dia, recebeu um chamado de Richard Clarke, que havia obtido informações de que Ramzi Yousef estava no Paquistão. Ele havia fugido para lá após o fracasso da fase um do complô por nome Bojinka. John P. O’Neill e sua equipe haviam tomado conhecimento deste complô, baseado em Manila, para atacar 11 jatos comerciais de empresas dos Estados Unidos, servindo rotas da Ásia-Pacífico. Souberam que, em dezembro do ano anterior, os conspiradores haviam se envolvido em um teste realizado num avião de passageiros das Filipinas, empregando apenas 10 por cento dos explosivos que deveriam ser usados em cada uma das bombas a serem plantadas nas aeronaves dos EUA. O teste resultou na morte de um cidadão japonês, a bordo de um vôo que ia das Filipinas para o Japão. Porém, o mais importante era a existência do computador pessoal de Yousef e que estava nas mãos dos peritos do FBI. O próprio O’Neill havia visto o laptop, mas não chegou a ver os arquivos que continham a fase II do Bojinka. Todavia, algum tempo depois, o computador, bem como seus arquivos, saíram do alcance dos investigadores, incluindo o próprio O’Neill. O destino do computador é motivo de muitas especulações. Entre elas, a mais aceita é a de que tenha seguido para a sede da CIA.
Paralelamente às investigações sobre Ramzi Yousef, O´Neill estava monitorando o saudita bin Laden, mesmo porque este último continuava com suas ações contra as forças americanas. No mês de novembro de 1995, fundamentalistas islâmicos, seguindo ordens da Al Qaeda, lançaram um ataque contra soldados americanos nas instalações de treinamento do Exército dos Estados Unidos em Riad.
No ano seguinte, após a transferência de Laden e de sua Al Qaeda para o Sudão, houve um encontro entre os príncipes que estavam preocupados com as ações dos homens de Osama, na Arábia e líderes empresariais sauditas, em Paris. Eles prometeram fornecer recursos à organização terrorista de Laden. O serviço secreto saudita, o Istakhabarat, já tinha decidido, no final de 1995, começar a financiar o Taleban, na época baseado principalmente em escolas religiosas do Paquistão, as madrassas. O Acordo viria alguns anos mais tarde.

Foi por ocasião da prisão de Ramzi Yousef, em 1996, que Laden recebeu orientações secretas para organizar e levar a termo um ataque contra uma base militar americana em Dharan, na Arábia Saudita, que ficou conhecido como o ataque as torres Khobar.
Para O’Neill que mantinha-se sempre atento, as evidências desta conspiração não tardaram a aparecer. Após este atentado, que matou 19 americanos e feriu centenas, os Estados Unidos construíram novas bases militares em território saudita, contratando para a obra a SBG, holding mais importante do país pertencente à família dos bin Laden.
Neste mesmo ano, Laden emitiu uma “fatwa”, um decreto religioso, convocando todos os muçulmanos a matar os soldados norte americanos na Arábia e na Somália.
Finalmente, após intenso trabalho das equipes de contra-terrorismo, o FBI reuniu indícios que comprovavam a participação de bin Laden, de sua organização  a Al Qaeda e do Hezbollah, no atentado terrorista de 25 de junho de 1996, aos quartéis americanos nas Torres Khobar, nos quais morreram 19 aviadores americanos. Durante as investigações, um notbook foi confiscado de suspeitos presos e, em seus arquivos, constavam os nomes de Laden e de Ali. Osama foi indiciado sob acusação de treinar pessoas envolvidas no ataque aos soldados americanos na Somália. Um ano depois, em entrevista a CNN, ele admitiu que seus seguidores, juntamente com muçulmanos que viviam na cidade de Mogadíscio, mataram os soldados. Bin Laden também foi acusado de estar envolvido em ataques fracassados a dois hotéis iemenitas que hospedavam soldados americanos. Em março de 1996, o Sudão ofereceu a extradição de Osama bin Laden, para os Estados Unidos e para a Arábia Saudita. Muito embora O’Neill estivesse procurando por Laden, os americanos incrivelmente, recusaram a oferta. A Arábia, a mesma coisa. Sem alternativa, o governo sudanês decidiu expulsar Laden do país. É de grande relevância, a propósito, comentar que dois anos depois, por ordem do presidente Bill Clinton, os EUA bombardearam uma fábrica de remédios do Sudão, numa desastrosa ação, cujo objetivo era punir os Colaboradores de Osama. Os punidos foram, sem dúvidas, muitos dos doentes, vítimas da falta de remédios que a fábrica destruída, deixou de produzir. Este fato, posteriormente, foi divulgado em reportagem de 3 de outubro de 2001 no “Washington Post”.


Do Livro: O Longo Caminho até o 11 de Setembro.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

O Terror Chega para os Americanos - Parte II




Timothy James McVeigh nasceu em Pendleton, no ano de 1968 e cresceu num ambiente católico de classe média, em Lockport, no Estado de Nova York. Filho e neto de operários, por duas gerações sua família, perfeitamente integrada na comunidade, trabalhara em uma fábrica de radiadores. Desde cedo, mostrou atração pela vida militar, assentando praça aos 20 anos. Soldado modelo bateu recordes em desempenho e em disciplina. Na guerra do Golfo, em 1991, combateu como artilheiro de tanque e por sua atuação, aos 22 anos, recebera todas as condecorações possíveis. Tornou-se um herói de guerra. Possuía como ambição, integrar os reputados Boinas Verdes, comando de elite do exército. Entretanto, falhou nos testes de admissão, jamais voltando a se candidatar e logo dando baixa no exército. Desiludiu-se com o governo de seu país e com a forma que acreditou ser desumana, de como os Estados Unidos tratou o povo iraquiano, impondo-lhes duras sanções econômicas e militares. Com a vida sofrendo uma degradação brusca, a única saída para suas perícias, foi trabalhar como guarda de segurança na esfera privada, na qual atuou durante algum tempo. Quando cotejado aos píncaros emocionais da campanha e com o status de herói de guerra, a nova situação revelou-se intolerável, e McVeigh deixou seus empregos, preferindo ficar à deriva.
Nos Estados Unidos existem duas tendências de extrema direita: uma, que se autodenomina “populista”, com raízes em movimentos de pequenos proprietários rurais, que são contra o poder dos bancos, que data da luta contra o padrão-ouro no século 19. Sua ideologia, especificamente americana, é pouco familiar e difícil de compreender para os estrangeiros. Proclama-se, nem direita nem esquerda; não se apresenta como genéricamente racista, nem como fascista, mas como uma espécie de anarquismo de direita, em rebelião contra o poder centralizado do governo federal e as altas finanças. Ao contrário, a tendência “supremacista branca” considera-se abertamente herdeira do hitlerismo e se enquadra sem dificuldades no que o resto do mundo reconhece claramente como ultradireita neonazista. Os populistas odeiam Wall Street, ainda mais que a esquerda mais radical. Um de seus textos atribui a um grupo secreto de multimilionários organizados em torno do centro financeiro do mundo a responsabilidade pelo III Reich, pela globalização e pelo tráfico mundial de drogas. A Segunda Guerra Mundial teria sido planejada por John D. Rockefeller, avô de David Rockefeller, e Prescott Bush, pai do ex-presidente George Herbert Walker Bush.
Apesar do simplismo ideológico, não faltam aos militantes populistas treinamento, competência militar e meios técnicos para realizar atentados de porte. Responsáveis pelo grosso das chamadas milícias, seus membros tem sido recrutados entre os soldados do exército dos EUA e parte de suas armas e explosivos tem sido obtida, legal ou ilegalmente, dos arsenais das forças armadas. Não lhes faltam conexões com o Taleban, se estes acaso tiverem necessidade de sua cooperação: os mujahedins (guerreiros sagrados) receberam treinamento militar dos EUA para combater o regime pró-soviético do Afeganistão e compartilham com os populistas seu ódio aos judeus e ao capital financeiro.
Um representante bem característico dos populistas é James “Bo” Gritz, ex-tenente-coronel dos Boinas Verdes (Forças Especiais do Exército americano) que combateu no Vietnã. Ele lidera uma milícia e uma “comunidade Patriótica” em Idaho, chamada Almost Heaven (Quase Paraíso). Em 1998, um de seus colaboradores admitiria ser culpado de embarcar num avião comercial, um carregamento de explosivo plástico militar destinado ao treinamento de rebeldes do Taleban, no deserto de Nevada.
McVeigh era um colecionador de armas e, como tal, acabou sendo absorvido por uma instituição tipicamente norte-americana, que é a subcultura dos armamentos. Grande número de pessoas, boa parte das quais organizadas em milícias semi-clandestinas e paramilitares, dispondo de publicações periódicas no ramo, dedica-se a freqüentar feiras especializadas que se realizam pelo país todo com regularidade semanal. Nessas feiras, todos se conhecem, compram, vendem ou barganham artigos legais e menos legais – como excedentes do exército, fardas, metralhadoras, morteiros, rifles, dinamite, estopins, munição, detonadores, componentes eletrônicos - enquanto partilham das mesmas idéias. São essas idéias que distinguem a direita americana de outras. Primeiramente, a fervorosa defesa da Constituição e dos direitos civis, expressos na prerrogativa de comprar e portar todo tipo de armamento. Nessa concepção, a liberdade é garantida pelo conjunto dos cidadãos armados: um homem desarmado é presa fácil da tirania. Em segundo lugar, a desconfiança, e resistência sem tréguas, ao governo e ao aparelho de estado, a cujos serviços secretos atribuem uma conspiração em andamento para privá-los das armas. Acreditam-se perseguidos pelo FBI e pela CIA, mas odeiam acima de tudo a BATF, agência federal do Tabaco, Álcool e Armas de Fogo, com filial no edifício demolido em Oklahoma City. E por fim, porque se concebem como legítimos herdeiros do espírito libertário que norteou a guerra da Independência, quando os dominadores ingleses foram expulsos. Temendo o totalitarismo, recusam-se a pagar impostos, a ter um número de inscrição na previdência social e a cadastrar-se seja para o que for numa afirmação de individualismo.
McVeigh encontrou aí seus pares e, embora não se tenha filiado a nenhuma milícia, começaria a negociar armamentos e similares de feira em feira. Também distribuía panfletos de sua autoria e etiquetas com slogans, arregimentando contra a opressão exercida pelo governo. Abandonando a legalidade, usaria documentos falsos, desde carteiras de motorista a cartões telefônicos, com nomes também falsos. Ao deslizar para a clandestinidade, prescindiria de domicílio fixo, vivendo largos períodos nas casas dos camaradas de igual convicção, em trailers e em motéis.
Com o auxílio de dois desses amigos, e de quatro extremistas islâmicos, também em guerra contra o governo dos EUA, juntariam ingredientes químicos suficientes para a fabricação de uma bomba de vastas proporções, pesando 3.500 quilos, com base em fertilizantes. Alguns ingredientes roubariam, outros teriam que comprar. E acumularam tudo num depósito alugado, e na propriedade de um deles. Para financiar o último estágio das operações, assaltou a casa de outro amigo, expropriando seu arsenal e outros bens. McVeigh sabia o que estava fazendo, e tudo ficava dentro da alçada de suas especialidades, aprendidas na tropa.

          McVeigh, certamente não agiu como uma pessoa normalmente agiria, para escapar de uma captura. Apenas 90 minutos após a explosão, ele foi parado por um policial, Charles Ragher, porque estava dirigindo com excesso de velocidade, em uma zona de velocidade restrita. O policial constatou que, além do seu carro ser velho, o mesmo não possuía placas de identificação e não estava licenciado. Quando seu veículo foi vistoriado pelo oficial, este lhe deu voz de prisão, após ter encontrado uma pistola, no porta-luvas. McVeigh chegou a dizer para o policial que a arma estava carregada, no que o mesmo lhe respondeu que a sua também estava. Conduzido à cadeia mais próxima, logo seria identificado como o responsável pelo atentado, graças ao número gravado no eixo (intacto e lançado a mais de 90 metros de distância) do caminhão bomba, única peça que não se desintegrara e que havia sido encontrada 1 hora após a explosão, e a identificação feita pelo proprietário do hotel onde McVeigh havia se hospedado, que o havia reconhecido através do retrato falado do suspeito que aparecera na televisão, no dia seguinte ao atentado. As provas apresentadas foram apenas circunstanciais, sem testemunhas que pusessem o acusado no local do crime, nem impressões digitais, ou algo dessa ordem. Como o réu permaneceu mudo até após o término do julgamento, não dispondo de melhores provas e sem confissão, seria praticamente impossível um júri condenar alguém, quanto mais à pena capital. Todavia, foi o que aconteceu. Em agosto de 1997, McVeigh foi condenado à morte. A execução foi marcada para o dia 16 de maio de 2001, às 08:00 h.      

Do livro: O Longo Caminho até o 11 de Setembro.