O Longo Caminho até o 11 de Setembro

O Longo Caminho até o 11 de Setembro
A verdadeira história do 11 de setembro

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O Longo Caminho até as Guerras no Oriente Médio.


Em uma das reuniões que ocorreram paralelas a uma conferência internacional para arregimentar apoio armado a grupos da oposição síria, houve uma discussão entre os ministros do Exterior da Arábia Saudita e do Qatar.

A discussão focou-se nas causas do fracasso na Síria; teve de tudo: de procurar desculpas a recusar qualquer culpa pelo que aconteceu. Um funcionário libanês disse que o ministro saudita vinha adotando tom acusatório, até que ouviu pesada resposta do ministro do Qatar.

Em resumo, o ministro qatari disse que “Nós fizemos tudo na Síria durante dois anos e conseguimos que todo o planeta abraçasse a causa da oposição síria. Você [príncipe Bandar] assumiu, e bastaram dois meses para que todo o planeta se transferisse para o lado de Bashar al-Assad”.

Esse parágrafo pode resumir todos os desenvolvimentos na Síria e
no Oriente Médio nas últimas semanas ou, mais especificamente, desde que Moscou e Washington firmaram um acordo para destruir as armas químicas da Síria, e começaram a surgir sinais de reaproximação entre os EUA e o Irã.

Mas o curso de todos esses eventos começou, de fato, há uma década, quando os EUA decidiram derrubar Saddam Hussein. Os sauditas apoiaram, mas a Síria opôs-se.

Pouco depois da queda de Bagdá, em abril de 2003, começou a tornar-se cada vez mais claro que os sauditas, aliados do vencedor da guerra do Iraque, estavam perdendo no campo político o que tinham suposto, erradamente, que teriam ganho graças à força militar de outros. Simultaneamente, os sírios, que se mantiveram aliados da parte derrotada, começaram a colher benefícios políticos, paralelos aos ganhos geoestratégicos de seus aliados iranianos.

As primeiras semanas do ataque contra a Síria podem ser identificadas nesse paradoxo observado naquele momento, sobretudo quando a coalizão dos derrotados começou a aumentar, incluindo George W. Bush, Jacques Chirac e a Casa de Saud e seus aliados no Líbano, os quais tinham muito a ganhar e muito a perder, tanto em Damasco quanto em Beirute.

Assim aconteceu a decisão de tirar do Líbano as forças de Assad – para destruir seus ganhos em Bagdá. Mais uma vez, os sauditas foram convencidos pelo comportamento de seus “delegados” norte-americanos. Mas a coisa durou pouco. Apenas alguns meses depois que o exército sírio saiu do Líbano, dia 26/4/2005, começou a ficar visível que os norte-americanos estavam também se recolhendo aos limites demarcados pelo próprio pragmatismo.

Os sauditas exigiam que os EUA apontassem a pistola para a cabeça da Síria, mas, em vez disso, Bush preferiu seguir uma abordagem de “porrete-e-cenoura”. Os sauditas queriam a “des-Baath-ificação” na Síria, mas os norte-americanos queriam mudar o comportamento do regime, não mudar o próprio regime.

A violenta resposta dos sauditas a Washington não demorou a aparecer. Como aconteceu outra vez recentemente, dia 20/9/2005 o ministro de Relações Exteriores saudita, Saud al-Faisal, criticou furiosamente o governo dos EUA, em discurso no Conselho de Relações Exteriores em New York City.

Faisal disse então que a política dos EUA no Iraque estava aprofundando divisões sectárias, preparando a balcanização do país, o que poderia levar o Iraque a cair nas mãos do Irã.

A briga entre Riad e Washington por causa do Iraque continuou durante anos, até que surgiu uma ocasião para que os dois países novamente convergissem. O primeiro ponto de convergência entre ambos acontecera no momento de expulsar do Líbano as forças sírias de Assad; o segundo foi o acordo para restaurar o equilíbrio no Iraque, apoiando Iyad Allawi nas eleições de 2010.

Quando Assad aceitou o projeto Allawi em Bagdá, a coordenação Síria-sauditas começou em Beirute. Todas as questões que envolviam os sauditas no Líbano foram postas na gaveta, inclusive o cargo de primeiro-ministro para Saad Hariri, o Tribunal Especial para o Líbano, as armas do Hezbollah e a presença síria – como se dispôs num famoso “documento de concessões” do movimento “14 de Março”, que Walid Jumblatt divulgou dia 21/1/2011, poucas semanas depois de o projeto Allawi estatelar-se contra o muro, em Bagdá.

O timing não foi simples coincidência. De fato, nas últimas semanas de 2010, o eixo Síria-Irã conseguiu, mais uma vez, abortar o sonho saudita. Allawi venceu as eleições no Iraque, mas foi Nouri al-Maliki quem, afinal, constituiu o governo. O eixo Síria-sauditas teve morte súbita em Beirute. E pouco depois começou o ‘levante’ em Damasco.

Esses são os elementos de uma equação bem ampla que afinal se pôde ver: em 2003, os sauditas perderam o Iraque; os EUA então decidiram garantir-lhes compensação no Líbano e na Síria, pelas perdas sauditas no Iraque. Em 2005, os EUA recuaram em Damasco. Pela terceira vez, sauditas e EUA perdiam: no Líbano, na Síria e no Iraque. Então decidiram virar a mesa toda, de vez, na cadeia central, e derrubar o governo de Assad em Damasco.

Mas os cálculos no Oriente são seguidamente muito complexos e, talvez, difíceis demais para que os compreendam um cowboy distante ou um beduíno próximo. Os EUA então voltaram à região, com um projeto inspirado, agora, na Primavera Árabe.

O projeto, de fato, era idéia bem simples, com roteiro assinado por Recep Tayyip Erdogan da Turquia e dirigido pelos arquitetos dos ‘levantes coloridos’: entregamos o poder em toda a Região à Fraternidade Muçulmana, e os Irmãos em troca, atendem três demandas – garantem a segurança de Israel, os interesses dos EUA e a estabilidade dos governos, sem que Washington tenha de pagar a conta.

O trem até que andou bem por esses trilhos nos primeiros tempos, na Tunísia, no Egito e na Líbia, mas a hostilidade dos sauditas contra a Fraternidade Muçulmana os levava a temer que os Irmãos, mais dia menos dia, tomassem o poder nas “cidades de sal” no Golfo.

Os sauditas, contudo, mantiveram-se em silêncio por quase um ano e meio. Opor-se a projeto bem-sucedido é sempre tática não recomendável, e eles se mantiveram recolhidos, até que, afinal, amadureceram as condições para o fracasso do projeto dos EUA.

Dia 11/9/2012, a promessa de proteger os interesses de Washington entrou em colapso em Benghazi, com o assassinato do embaixador dos EUA. Em novembro, a demanda de que a segurança de Israel seria preservada também fracassou, quando irromperam confrontos em Gaza, e o Hamás não conseguiu fazer valer o compromisso firmado entre a Fraternidade Muçulmana e Israel. E, no início de 2013, já era absolutamente evidente que a promessa de estabilidade nos países da Primavera Árabe estava reduzida a simples piada.

Tudo estava maduro para que os sauditas retomassem a iniciativa. Tinham tudo preparado para um contra-ataque, pelo menos desde meados de julho de 2012, quando o príncipe Bandar foi nomeado espião-chefe do reino.

Por muitos meses, os sauditas haviam feito todo tipo de pressão contra os EUA e os países árabes, persuadindo Washington pela quarta, ou centésima-milionésima vez, a fazer o jogo: Mohamed Mursi fora derrubado. O Qatar fora pacificado. A Turquia fora marginalizada. E Riad assumiu para ela todos os dossiês.
Até aí, parecia que os sauditas teriam triunfado completamente, e só eles, pela primeira vez em décadas. Mas naquele momento, surgiu o acordo das armas químicas, construído por Moscou. O sorriso nuclear de Hassan Rouhani surgiu em New York. E tudo veio abaixo.

É de se esperar que Riad perca completamente a compostura, a sobriedade e até a razão. Todas as arenas converteram-se em caixas de mensagens a transmitir as objeções e rejeições dos sauditas, de Maaloula a Trípoli; e do Tribunal Especial para o Líbano ao Conselho de Segurança da ONU, com Bandar a esbravejar e berrar, e todos confusos, sem entender o relacionamento com os sauditas: os EUA são lacaios do Reino Saudita, ou é exatamente o contrário? (...)

Por outro lado, o governo iraniano modificou a abordagem e a retórica relativamente à crise no Iraque e na Síria. As insinuações e as sombrias indicações indiretas das declarações iranianas até agora feitas deram lugar à crítica aberta do apoio da Arábia Saudita ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante [ISIL, no acrônimo inglês].

Dois destacados membros da comissão de assuntos estrangeiros e de segurança do parlamento iraniano referiram-se com veemência a Riad – “A Arábia Saudita é o apoiador espiritual, ideológico e material do ISIL e o soberano saudita atribuiu ao anterior chefe dos serviços de informações [o príncipe Bandar] a missão especial de apoiar o ISIL”,
(Mohammad Hassan Asafari).

Significativamente, o Líder Supremo Ali Khamenei repetiu uma expressão cunhada pelo Imã Khomeini nos primeiros anos da revolução iraniana, referindo-se à Arábia Saudita como um mascote dos EUA e um cúmplice disfarçado de Israel. Dirigindo-se no domingo a um grupo de recitadores do Corão, em Teerã, disse que existe uma diferença entre o “Islã americano” e o verdadeiro Islã – “O Islã americano, embora tenha nome e aparência islâmica, contemporiza com o despotismo e o sionismo…e está inteiramente a serviço do sionismo e dos EUA.”

Entretanto, o apoio aberto à idéia de um Estado curdo independente no norte do Iraque manifestado pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu – para além das visitas a Erbil na semana passada do secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e do secretário dos negócios estrangeiros britânico William Hague – alertaram Teerã para a calibrada estratégia anglo-americana (com a participação de Israel) de criar um “Estado petrodólar” junto à fronteira ocidental do Irã.

Teerã acompanha atentamente a forte presença dos serviços de informações israelenses em Erbil. Numa declaração pouco usual, Teerã contestou frontalmente a emergência de um Curdistão independente. Hossein Amir Abdollahian apontou à liderança curda que seria imprudente enveredar pelo caminho da secessão. Um destacado membro do parlamente criticou pessoalmente o líder curdo iraquiano Massoud Barzani e a sua intenção declarada de anexar Kirkuk.
Barzani é próximo dos serviços de informações israelenses. O incremento da atividade desses serviços na região do Curdistão e a iniciativa de Netanyahu no sentido de se imiscuir nas divergências inter-iraquianas explicam a emergente possibilidade de Teerã considerar reatar o apoio ao Hamas.

Os laços entre Teerã e o Hamas restringiram-se nos últimos anos, depois da catastrófica decisão de Khaled Mashaal de abandonar Damasco e de se instalar em Doha, alinhado com os países da região que pressionavam uma mudança de regime na Síria. 

Sem dúvida que Mashaal será hoje um homem mais sábio (e mais triste), como é visível na carta que dirigiu ao presidente iraniano, Hassan Rouhani, pedindo ajuda. Para além disso, Teerã realizou uma importante manobra na frente diplomática. O vice-ministro do Exterior, Abdollahian, deslocou-se no fim-de-semana a Moscou para consultas com o seu homólogo russo relativas ao desenvolvimento da situação no Iraque e na Síria, em particular no que diz respeito à necessidade de frustrar a estratégia dos EUA.

É visível nestas conversas em Moscou um elevado grau de coordenação russo-iraniano. Naturalmente, o Irã saúda a iniciativa russa de envio de aviões a jato e conselheiros militares para Bagdá. O objetivo de ambos os países será de recusar a Washington a prerrogativa de ditar o governo do Iraque.

É interessante registrar que Moscou atendeu a solicitação de ajuda por parte do primeiro-ministro em funções Nouri al-Maliki, não obstante as desesperadas tentativas de Washington para o apear e o substituir por uma figura mais manejável à frente do governo de Bagdá. Os meios de comunicação ocidentais quiseram arrumar Maliki como definitivamente queimado, mas Moscou e Teerã poderão não ter a mesma opinião.

Teerã concluiu que a saga do ISIL no Iraque é um empreendimento EUA-Saudita e que o Catar foi excluído dele. (As relações Sauditas-Catar estão em estado de congelamento). O conclave que se reuniu com Kerry em Paris a 26 de Junho para discutir o roteiro para o Iraque e a Síria incluía a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e a Jordânia, mas a ausência do Catar saltava à vista.

Nesses termos, no domingo Rouhani pegou no telefone e debateu com o Emir do Catar os desafios do Iraque e do ISIL. Rouhani propôs que o Irã e o Catar se juntassem para combater o terrorismo no Iraque. Na segunda-feira igualmente, numa chamada telefônica do primeiro vice-presidente do Irã para o primeiro-ministro sírio, Wael al-Halqui, Teerã reiterou o seu apoio ao presidente sírio Bashar.

O significado fundamental destas iniciativas na frente diplomática é que o Irã espera infligir uma esmagadora derrota ao ISIL. Está claramente em curso a mobilização para esse objetivo. O Irã não permitirá que a vitória conseguida na Síria seja posta em causa pelas forças derrotadas através da ofensiva do ISIL no Iraque; nem irá contemporizar com uma reversão do ascendente xiita no Iraque pela porta dos fundos da “balcanização” do país. Em resumo, Teerã não está disponível para comprometer os seus interesses vitais e as suas preocupações centrais na Síria e no Iraque apenas porque as conversações entre o G5+1 e o Irã acerca da questão nuclear se aproximam da reta final.

Todavia, com todo este cenário sendo montado pelas principais potências da atualidade, os desmandos promovidos pelo auto proclamado Estado Islâmico, que culminaram com o assassinato dos dois jornalistas americanos jogaram um balde de água gelada sobre a Casa Branca que se vê sendo pressionada pela sociedade americana e a comunidade internacional. Isto levou o presidente Obama a assumir uma postura mais firme contra os mercenários e terroristas que ele mesmo ajudou a construir para a erradicação do governo de Bashar Al-Assade da Síria. Infelizmente, a comunidade de inteligência internacional não acredita nesta retórica fornecida por Washington. Todos sabem, nos bastidores, que trata-se de mais uma peça teatral montada às pressas pelo governo americano. Contudo, uma imagem já começa a tomar vulto: A de que Obama está perdendo o controle de suas jogadas nesta região. Os resultados são pouco previsíveis. Infelizmente, construir é mais difícil do que destruir.


Tags: Arábia Saudita, armas químicas, Damasco, EUA, guerras, Irã, Oriente Médio, Qatar, Síria.



terça-feira, 29 de julho de 2014

A Tragédia Palestina - Os índios modernos

Goyathlay (Gerônimo) dos apaches chiricahua
      Yasser Arafat Presidente da Autoridade Nacional Palestina

A tragédia moderna do povo palestino, habitante autóctone da região que leva seu nome, encontra paralelo na história da colonização dos EUA, vivenciada pelos povos do oeste, em particular os povos índios (nativos), que foram massacrados pela mais formidável máquina de guerra existente na época, o exército dos Estados Unidos. Durante toda a segunda metade do século XIX, a descoberta de metais preciosos, a construção de estradas e ferrovias, foi marcada pela criação de um elemento perigoso ao progresso da nação. E é neste contexto que entram em cena, portanto, os índios, clássicos protagonistas dos westerns, sempre vistos como um inimigo a ser batido, um entrave à chegada dos colonizadores que, através de seu ideológico “destino manifesto”, consideram-se um povo privilegiado, com autorização divina para conquistar e exaurir aquelas novas terras, tal qual a retórica do estado sionista de Israel.

          Em seu clássico: Enterrem Meu Coração na Curva do Rio (1970), o historiador Dee Brown apresenta inúmeros relatos de índios, extraídos de reuniões oficiosas com representantes do governo dos Estados Unidos. Em sua maioria, as grandes tribos do sudoeste dos Estados Unidos foram massacradas pelos exércitos confederados e yankees que, durante a guerra civil, não queriam vê-los por perto, tentando despachá-los, todos juntos, para áreas reservadas distantes de suas terras de origem. Antes e depois da guerra, os massacres foram justificados pela construção de estradas, ferrovias ou até mesmo pela dizimação dos búfalos, principal fonte de alimentos dos nativos. Ainda que muitas etnias tivessem membros saqueadores e “invasores” (o território não era deles?), a maioria das tribos queria apenas continuar vivendo de acordo com seus costumes e em suas terras de origem. Muitas delas não se importavam com a convivência com o homem branco, desde que não fossem massacrados por eles. Brown registra um comovente relato do chefe Cadette, dos Navajos, por volta de 1861, em Santa Fé, após a crescente investida do general Carleton, yankee interessado nos minerais das terras dos índios (já que não havia mais confederados para combater naquele lugar):

          Vocês são mais fortes que nós. Lutaríamos com vocês se tivéssemos rifles e pólvora; mas suas armas são melhores que as nossas. Dêem-nos armas iguais e nos deixem livres, que também os combateremos; mas estamos abatidos; não temos mais ânimo; não temos provisões, nenhum meio de vida; suas tropas estão em toda parte; nossas fontes e poços estão ocupados ou vigiados por seus jovens. Vocês nos tiraram do nosso último e melhor baluarte, e não temos mais ânimo. Façam conosco o que bem entenderem, mas não se esqueçam de que somos homens e bravos. (BROWN, 2006, p. 34).

          O paralelismo entre os dois conflitos – Árabe e Israelense; brancos e índios - é e não é um espaço pós-colonial. Ele é – na medida em que, dentro da História americana, acontece após a independência dos Estados Unidos. Passa-se, portanto, após o período colonial “oficial”. Mas ele não é propriamente pós-colonial, no sentido em que os filósofos do pós-colonialismo tradicionalmente encaixam o termo. Seu espaço é o da guerra constante e, neste ponto, atual. Não apenas uma guerra econômica, cultural, étnica, representacional. Os habitantes do oeste americano do século XIX – e em especial os índios – assim como os palestinos, estão envolvidos em conflitos armados capazes de dizimar suas populações.
          O paralelismo entre estes dois momentos históricos, o passado e o atual, situa-se no espaço da guerra, no caso o americano com sua guerra civil, e no israelense com o conflito com os árabes, e o da expansão, para o grande oeste: espaços pontuados pelo armamentismo e pela expansão militarista e o dos assentamentos dos colonos judeus. A relação entre índios e brancos, judeus e palestinos não pode ser vista como uma simples (e complexa) relação de voz e supressão de voz. O subalterno aqui não apenas não pode falar; não pode viver. É um espaço colonial, ainda que não-declarado, porque as vozes privilegiadas não têm apenas o poder simbólico, têm o poder militar e o usam contra as vozes suprimidas – as vozes dos índios e dos palestinos. Isso não impede, porém, que nesse espaço de guerra e subjugação de uma cultura por outra através da via militar haja trocas simbólicas. Mais do que isso, não impede que haja, nesse espaço de conflito, fuga e busca. E é essa a lição: a constituição de semânticas culturais que se alternam, mesmo em um espaço colonial, ou seja, o emprego de uma retórica pós-colonial dentro de um espaço de colonialismo. Talvez seja, ainda mais do que um colonialismo propriamente dito, a apropriação de terras através da expulsão e dizimação de seus habitantes naturais. Os yankees e confederados, assim como os judeus não estavam e nem estão muito interessados em estabelecer de fato uma relação colonial com os índios ou os palestinos. No passado, assim como no presente o desejo sempre foi um só, acabar com eles ou isolá-los em um espaço onde eles não pudessem interferir em seus interesses expansionistas.

          O oeste americano do século XIX, bem como o território palestino, é, portanto, um espaço de conflito ideológico, cultural, territorial e militar. E o conflito é um fim em si mesmo.

Francisco Carlos Bezerra

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O Mestre das Marionetes

Brzezinski e Bin Laden no Paquistão


          A quem o Teleban pertence? A quem a Al-Qaeda serve? A quem a Al-Nusra beneficia? Quem escreve as agendas que estas e outras organizações terroristas seguem? Quem determina quais os países que serão atingidos pelas guerras? Quem decide as crises financeiras que destruirão as economias dos países? Quem decide os rumos e as mudanças que deverão ocorrer nas mais diversas regiões do mundo? Esta é uma longa história que vem sendo escrita por algumas personagens, que de tão malévolas, parecem saídas de um filme de terror. São homens de carne e osso como os simples mortais que a este documento tiverem acesso. Homens ressentidos, mesquinhos, arrogantes, gananciosos, que odeiam a tudo e a todos. Seus interesses são levados às últimas conseqüências e não se dão por satisfeitos com as duas Guerras Mundiais que criaram. Eles possuem nomes e sobrenomes e se julgam acima das leis. Da mesma forma que os ditadores que fabricam e depois destroem, possuem o mesmo desprezo pela vida humana e total desrespeito para com o resto do planeta. O livro O Longo Caminho até o Onze de Setembro, desmistifica estas pessoas e os classifica como criminosos e usurpadores. Lança luz sobre suas ações obscuras e os apresenta perante o mundo com todos os seus crimes cometidos contra a humanidade, contra as nações, e contra o futuro da raça humana. Estas pessoas corruptas e seus fantoches corrompidos fabricaram e fabricam guerras, crises humanitárias e financeiras, fome, miséria, doenças, tráfico de drogas e de pessoas, lavagem de dinheiro e armas de destruição em massa.

          Para as pessoas que querem continuar acreditando que tudo no mundo é obra do acaso e que conspirações não existem, sugiro que nem leiam o relato que se segue. Já aos homens de bem, que prezam pelo futuro de nossa raça como o fizeram nossos antepassados quando estiveram frente a frente com o extermínio massivo, encorajo-os a levantarem suas vozes e a agirem, pois o tempo é curto para a maioria das pessoas nesta casa que chamamos de Terra.

O Longo Caminho até o Onze de Setembro e, conseqüentemente, até a nova Guerra Global, aponta para um grupo seleto de conspiradores aos quais denomina: A Elite do Poder

           Fundada em 1973, para controlar o sistema monetário internacional, a Comissão Trilateral é o braço financeiro do movimento da Nova Ordem Mundial. Composta de banqueiros, industriais, empresários, militares, cientistas, economistas e políticos, a organização reúne pouco mais de trezentas personalidades exponenciais da América, Europa e Japão

Pouco tempo antes de o World Trade Center começar a funcionar, no início da década de 1970, a economia mundial passou por um período de incertezas e apreensões. O sistema monetário internacional ameaçava entrar em colapso. Foi então que David Rockefeller, já um poderoso banqueiro, seguindo a diretriz para a criação da Nova Ordem Mundial, passou à ação, encomendando estudos detalhados sobre os problemas econômicos mundiais. Rockefeller cercou-se de intelectuais das áreas financeira e política. Dentre eles, um brilhante imigrante polonês, naturalizado americano, de nome: Zbigniew Brzezinski, especialista em política internacional. Zbigniew Brzezinski e David Rockefeller investigaram e selecionaram cada indivíduo convidado a participar da formação e da administração da Nova Ordem Mundial. Eles escolheram e atraíram algumas das mentes mais brilhantes da Europa, Japão e EUA, que constituem o núcleo da Comissão Trilateral, e que, juntos, representam 70% do comércio mundial. A Comissão Trilateral foi criada com o objetivo de unir o mundo inteiro economicamente e obrigar as nações a darem autonomia aos seus bancos centrais que, obviamente, obedeceriam às normas internacionais vigentes. O primeiro passo para conseguir esse objetivo era controlar a presidência dos Estados Unidos. Assim o fizeram colocando na Casa Branca Jimmy Georgia Carter, que passara a fazer parte da Comissão Trilateral ainda em 1973, o ano de sua criação. Foi Brzezinski o homem designado para instruir Jimmy Carter sobre os pontos de vista da trilateralista. Com um perfeito controle sobre os meios de comunicação, os trilateralistas fizeram com que Carter emergisse do anonimato para apossar-se da Casa Branca. Imediatamente, o novo presidente nomeou para o cargo de secretário Zbigniew Brzezinski. Carter colocou também outros companheiros da Comissão Trilateral nos principais cargos de confiança.
Nas eleições de 1980 e 1984, a CT conseguiu eleger Ronald Reagan cujo vice-presidente, George H. W. Bush era membro destacado da Comissão.

Quem era aquele polonês de nome estranho?

Brzezinski era um professor da Universidade de Colúmbia, e Doutor em Filosofia (Ph.D) que foi escolhido por David Rockefeller para ser o diretor executivo da Comissão Trilateral. Em 1968, ele afirmou: “Muito em breve será possível termos um acervo de dados pessoais sobre cada cidadão. Essas informações permitirão um controle sobre cada pessoa da face da Terra, a qualquer hora... E cada cidadão poderá ser sondado e controlado pelas autoridades”. Sobre essa nova era profetizada por Brzezinski, que ele chamava de “Era da Tectrônica”, ele disse ainda: “A era da eletrônica envolverá gradualmente o controle da sociedade, que será dirigida por uma elite, onde os tradicionais valores devem ser destruídos. Sobre isso, nos presentes dias, Edward Snowden nos elucida muito bem com milhares de documentos secretos vazados da National Security Agency  NSA.
No plano político, resultaria um governo mundial único, instituído em torno de princípios comuns. Os mais relevantes desses postulados seriam: a supressão de todas as Forças Armadas, substituídas por um contingente policial supranacional com a bandeira da ONU, da OTAN ou de outra que poderá ser criada, no lugar das anteriores, mas que seja capaz de impor a paz e a ordem em qualquer parte do globo, com o respaldo de uma corte de justiça universal; a instituição de moeda única, física e eletrônica, emitida e controlada por um ou mais bancos centrais privados e independentes de qualquer governo nacional; o afastamento da civilização ocidental de seus antigos valores morais, éticos e religiosos, de tradição judaico-cristã ou muçulmana, submetendo-a, tão somente, ao domínio de uma “nova ética” materialista, com base exclusiva na razão, no conhecimento científico e no direito positivo; o fim dos estados nacionais, com a abolição de fronteiras fixas e do conceito de soberania.
Para que um processo de tamanha ambição e alcance pudesse prosperar na prática, seria necessária a existência de uma poderosa e atuante rede de instituições e lealdades, mantidas sob pesado véu de discrição e sigilo. Essa antiga urdidura, que esteve presente e influenciou fatos primordiais da história, como as revoluções americana, francesa e russa, e erodiu o poder das monarquias cristãs formadas a partir da Idade Média, começou a ser tecida, em sua fase mais contemporânea no governo do presidente Woodrow Wilson, com a criação de três instituições-chaves, que asseguraram a perfeita consolidação do sistema secreto de poder: a Liga das Nações, o Federal Reserve System e o Council on Foreign Relations (CFR). Duas vezes se tentou atingir esta meta. Por divergências das mais complexas, dois grandes choques se seguiram gerando, assim, duas grandes guerras.
De forma coerente com os planos de instruir e governar todas as fases da política externa americana foram membros do CFR, quase todos os diretores da CIA desde Allen Dulles, todos os secretários de Estado, menos um, desde 1940 e todos os secretários da Guerra/Defesa, sem exceção. Esta assertiva abrangeu o governo George W. Bush. A face do CFR começou a ser revelada, para o público americano, a partir dos anos 70, com o surgimento das novas tecnologias de comunicação. Em um esforço, aparentemente destinado a desviar essas atenções, David Rockefeller, então seu presidente, envidou esforços para criar uma organização mais visível, que pudesse servir de “biombo” para as atividades do conselho: a Comissão Trilateral.
A idéia de criar a Trilateral lhe fora ofertada por Zbigniew Brzezinski, chefe do Departamento de Estudos sobre a Rússia, da Universidade de Columbia (New York), autor de inúmeros documentos e livros que tinham servido de linhas mestras para o estabelecimento de diretrizes e estratégias pelo CFR. Ele pesquisara, anteriormente, uma forma de “cooperação mais próxima” entre as nações da Europa, da América do Norte e da Ásia, assim defendida: “Uma nova e mais ampla aproximação é necessária: a criação de uma comunidade de nações desenvolvidas, que possa, efetivamente, se dedicar as maiores preocupações relativas à humanidade... Uma comissão representando os Estados Unidos, a Europa Ocidental e o Japão, com reuniões periódicas de seus chefes de Estado, bem como uma pequena infra-estrutura de apoio, seria um bom começo.” Ele também vislumbrava uma sociedade “... Que fosse moldada cultural, psicológica, social e econômicamente pelo impacto da tecnologia e da eletrônica, particularmente na área dos computadores e das comunicações...”
A Comissão Trilateral de Brzezinski foi fundada, oficialmente, em 1º de julho de 1973, tendo David Rockefeller como presidente, mas os planos de sua criação e funcionamento foram apresentados, em primeiríssima mão, aos membros do ultra-secreto grupo dos Bilderberger, em abril de 1972, na pequenina cidade belga de Knokke-Heist. Ali, a reação ao projeto foi entusiástica. A grande preocupação do fechado grupo, nesse dia, era quanto às vigorosas, porém esperadas, reações da comunidade internacional, especialmente da Europa e do Japão, a devastadora desvalorização do dólar, representada pelo rompimento do pacto de Bratton Woods, por Nixon, desvinculando a moeda americana do padrão-ouro. Mas, havia, ainda, outras razões de inquietação entre os presentes aquela fechadíssima reunião: eram as novas sobretaxas aplicáveis as importações americanas, visando à redução do seu déficit externo; a política iniciada com a China, de olho no seu potencial de comércio; e o gradativo, porém brutal, aumento de preços do petróleo. Os países produtores tinham reagido de pronto, a astronômica depreciação do dólar, que elevara o preço do ouro as nuvens (passou de US$ 800,00 a onça), reajustando também eles, sua valiosa e finita matéria-prima, conhecida no jargão do mercado como “ouro negro”. Afinal, os petrodólares não poderiam mais ser convertidos no metal amarelo, ao preço de US$ 35,00 a onça, conforme estipulara o acordo de Bretton Woods, desde o pós-guerra. Para os países produtores, vender petróleo, dali em diante, em troca de uma moeda agora inconversível e desvalorizada, representaria, como num passe de mágica, transformar sua poupança monetária (os petrodólares) em areia e reduzir, pesadamente, o valor econômico de suas reservas de óleo, dos contratos de fornecimento de longo prazo, de sua receita bruta e dos estoques formados. Essa foi, na verdade, a causa real dos chamados “choques do petróleo” que se seguiram, em 1973 e 1979. Não obstante, esse gravíssimo fato foi transmitido ao grande público, pela mídia de massa, como atitude “ganânciosa e monopolista” do cartel de países produtores, decididos a “levar à bancarrota a economia ocidental...” Todas essas questões, que estavam amargurando os aliados dos americanos, causavam deterioração nas relações externas dos Estados Unidos, especialmente com o Japão. Ele era o principal prejudicado, em face de sua total dependência de combustíveis fósseis e das exportações maciças de produtos de alta tecnologia para os Estados Unidos. A reunião entre os Bilderberger, entretanto, tinha lhes dado mostras de que houvera certa precipitação em se deflagrar, quase simultâneamente, medidas tão duras e explícitas visando a resultados financeiros convergentes, concentradores. Era imprescindível, portanto, abrandá-las e, por isso, a proposta de Brzezinski, sugerindo um estágio intermediário, tripartícipe, na unificação desse poder, com especial destaque para o Japão, na liderança do que viria a ser um futuro bloco asiático, foi aclamada, unânimemente. A Trilateral estava informalmente criada e liberada para iniciar seus trabalhos, o que ocorreu, apenas três meses depois, numa propriedade particular da família Rockefeller, em Pocântico Hills, Tarritown, Estado de Nova York, nos dias 23 e 24 de julho de 1972. Participaram  desse primeiro encontro diversas personalidades, ao que tudo indica, selecionadas apenas por Rockefeller e Brzezinski. Somente um ano depois, ocorreria a cerimônia oficial. David Rockefeller, então, nomeou Brzezinski fundador e diretor do ramo norte-americano da Comissão, que abrigava, ainda, o governador Jimmy Carter, o congressista John B. Anderson (outro candidato presidencial) e Hedley Donovan (editor-chefe do grupo Time, Inc.). Entre os demais fundadores, estavam Reginald Maulding, Lord Eric Roll, Alistair Burnet (editor do Economist), Giovanni Agnelli (presidente da Fiat), Raymond Barre (França) e um grupo de representantes da elite Japonesa, à frente, Sujiro Fujino (Mitsubishi).
A Primeira Guerra Mundial veio demonstrar que o petróleo era imprescindível e estratégico para todas as nações que buscavam o progresso. As empresas européias intensificaram as pesquisas em todo o Oriente Médio. Elas comprovaram que 70% das reservas mundiais de petróleo estavam no Oriente Médio e provocaram uma reviravolta na exploração do produto. Um tempo depois, países como Iraque, Irã e arábia Saudita ganharam alto poder no jogo da produção petrolífera. E foi nesse contexto de domínio das reservas que aconteceram as três grandes crises do petróleo. A primeira foi em 1973, quando o mundo vivia uma época de crescimento industrial. As máquinas eram completamente dependentes do petróleo para funcionar. Se aproveitando dessa situação, os árabes, maiores produtores, entraram em conflito com Israel, país que contava com o apoio dos EUA (país que menos sofreu, porque tinha uma grande reserva de petróleo e porque os petrodólares eram investidos no mercado americano) e Europa. Como represália, os árabes decidiram boicotar o Ocidente, cortando a extração de petróleo em 25%. O preço do barril saltou de U$ 2,00 para U$ 12,00.
Na Segunda crise, em 1979, além dos donos dos poços de petróleo (os árabes) mais uma vez reduzirem sua produção, conjunturas políticas externas fizeram com que o preço subisse violentamente, saltando para a casa dos U$ 40,00, provocando desespero nos países importadores de petróleo. Para sair dessa dependência, os países importadores passaram a desenvolver formas alternativas de combustíveis como o álcool, a energia nuclear e o carvão mineral. A exploração de jazidas de petróleo também se intensificou em muitos países.
Na terceira crise, houve então, a Guerra do Golfo, em 1991, quando o Iraque invadiu e anexou o Kuwait, o que gerou um forte conflito.
A incursão do Oriente Médio na dominação de suas produções de petróleo, principalmente a partir de 1973, trouxe junto muitas guerras, concentração de renda e aumento das desigualdades sociais. Os conflitos religiosos e territoriais, que sempre marcaram a região, se intensificaram com a questão do petróleo.
Os Petrodólares
          Até 1971 cada dólar Americano representava um peso fixo em ouro. Os Estados Unidos dispunham de enormes reservas de ouro, que cobriam a totalidade da quantidade de dólares posta em circulação. Quando bancos estrangeiros tinham mais dólares do que pretendiam, podiam trocá-los por ouro. Esta era a razão pela qual o dólar era aceito no mundo todo. Contudo, a partir deste ano, o valor do dólar foi separado do peso fixado em ouro. Esta foi uma medida da aflição do presidente Nixon. A guerra do Vietnam havia esvaziado os cofres do Estado. Os EUA haviam impresso mais dólares do que o permitiam as suas reservas de ouro. Desde então, o valor do dólar é determinado pela lei da oferta e da procura nos mercados de câmbio. Nesta época os Estados Unidos ainda produziam bastante petróleo para o seu consumo próprio. Para proteger suas empresas petrolíferas, haviam instaurado limitações às importações de petróleo. Em contrapartida do levantamento destas limitações, os países da OPEP prometiam não mais vender o seu petróleo senão em dólares. Na época o dólar já era a moeda mais utilizada no comércio mundial. Desta forma, todos aqueles que desejavam importar petróleo deveriam antes comprar dólares. É a partir deste momento que as coisas melhoraram para os EUA. Quase todo o mundo tem necessidade de petróleo, portanto todo o mundo quer dólares. Vejamos: Os compradores de petróleo do mundo inteiro dão os seus yens, coroas, francos e outras moedas. Em troca recebem dólares, com os quais podem comprar petróleo nos países da OPEP. A seguir, os países da OPEP vão gastar estes dólares. Poderão naturalmente fazer isso nos Estados Unidos, mas também em todos os outros países do mundo. Com efeito, todo o mundo quer dólares, pois todo o mundo terá novamente necessidade de petróleo.
          Neste comércio de petróleo, há a necessidade de uma quantidade importante de dólares. Muitos destes dólares não servem senão no ciclo no exterior dos Estados Unidos, ou seja, entre os outros países do mundo e os países da OPEP. Acontece que no princípio não existiam suficientes dólares para isso. Eles deviam ser impressos nos EUA. Isso lhes custava papel e tinta verde. A seguir, estes dólares deviam ser postos à disposição no estrangeiro, nos lugares onde os compradores de petróleo dele tinham necessidade. Esta artimanha possibilitou a obtenção de lucros exorbitantes. Com efeito, não existe senão um modo de colocar este papel moeda novo à disposição no estrangeiro: os Estados Unidos vão fazer compras com eles e uma vez que esta quantidade de dólares fica em uso permanente no estrangeiro, os Estados Unidos nada fornecem em troca. As suas compras, portanto, são gratuitas e perpetuam-se. Uma vez que são precisos mais dólares no comércio de petróleo, pela subida de preços ou de volumes, estes são benefícios para os Estados Unidos. Isto não se limita aos crescimentos no comércio de petróleo, pois vale igualmente para a utilização do dólar no resto do comércio mundial. A globalização, o livre comércio mundial, a privatização mundial dos serviços públicos, como por exemplo, os serviços de gás, água, eletricidade, telefone e transportes públicos, devoram quantidades enormes de dólares. São sempre mais dólares que desaparecem nos quatro cantos do mundo. E em primeiro lugar isto significa sempre compras gratuitas para os Estados Unidos.
          Evidentemente, isto implica que os Estados Unidos estão a criar, por estes muitos anos, dívidas com todas estas compras gratuitas. Pois, um dia o estrangeiro poderia vir fazer compras nos EUA com todos estes dólares e então, finalmente, os EUA deveriam fornecer alguma coisa em troca. Para não correr risco, os Estados Unidos deveriam ter o cuidado de manter o equilíbrio entre as suas importações e as suas exportações. A partir de 1971, data em que uma quantidade acrescida de dólares fora posta em circulação, só em 1972 as vendas ultrapassaram as compras. O tiro saiu pela culatra. A seguir começou a descida e os Estados Unidos vivem cada vez mais pendurados no resto do mundo. Só no ano 2004, o déficit na balança comercial foi de 650 bilhões de dólares. Numa população de 300 milhões, isto quer dizer que cada cidadão dos Estados Unidos comprou 2.167 dólares de mercadorias estrangeiras, pelas quais não pagou.
          Em face deste déficit da balança comercial, não houve melhoria na balança de pagamentos. A dívida externa dos Estados, portanto, aumentaram em 650.929.500.000 dólares num ano. Isto equivale a 1,25 milhões de dólares por minuto. O déficit do comércio externo dos Estados Unidos é mais importante no seu comércio com a China (162 bilhões de dólares), o Japão (76), o Canadá (66), a Alemanha (46), o México (45), a Venezuela (20), a Coréia do Sul (20), a Irlanda (19), a Itália (17), a Malásia (17).
          Qualquer outro país que compra mais do que vende verá diminuir o valor da sua moeda. Quando não se pode comprar grande coisa com uma moeda, a procura baixa, tal como o seu curso no mercado de câmbios. Mas o que vale para os outros países não vale para os Estados Unidos. O mundo inteiro tem tanta necessidade de dólares para comprar petróleo que há sempre procura. Os Estados Unidos consomem ¼ da produção mundial de petróleo. Quando o curso do dólar ascende, unicamente o preço para os outros ¾ dos consumidores de petróleo é que sobe. Para os Estados Unidos o preço não se move. Quando o preço da OPEP sobe, é preciso acrescentar dólares ao ciclo. Se o consumo permanece o mesmo, eles podem ser impressos e acrescentados à circulação, sem que o curso do dólar baixe.
          No comércio do petróleo, uma baixa do dólar é geralmente seguida da sua conseqüência lógica. Em longo prazo, os exportadores de petróleo não aceitarão um valor menor pelas suas vendas. Se o curso do dólar baixa 10%, é quase certo que os preços do petróleo aumentarão 10% de modo que o valor permaneça pelo menos idêntico. Se não houver mais necessidade de dólares para comprar petróleo, o resto do mundo não terá nenhuma vantagem em continuar a servir-se do dólar. Apenas desvantagens. O dólar não representa mais equivalência em ouro e a dívida externa gigantesca conduzirá à conseqüência lógica: o curso do dólar cairá. E quando os estrangeiros não aceitarem mais dólares, os Estados Unidos não poderão mais imprimi-los para viver à custa do resto do mundo. Não poderão mais manter o seu exército custoso. Perderão a sua influência. A queda do dólar terá um efeito secundário miraculoso para os Estados Unidos. Quando o dólar já não valer mais nada, a dívida externa terá ao mesmo tempo desaparecido. Com efeito, esta é composta de dólares que se encontram no estrangeiro. No limite, atingirão o valor do papel velho. Então, a queda do dólar será igualmente acompanhada pela falência de bancos, empresas e organizações internacionais, cujo destino está ligado ao do dólar.
          Um grupo importante de compradores de dólares é constituído pelos bancos centrais dos diferentes países. Os bancos centrais guardam reservas estratégicas. São reservas em moeda estrangeira, com as quais estes bancos podem recomprar a sua própria moeda, se porventura grandes quantidades forem propostas nos mercados de câmbio. Assim, eles podem impedir que o curso da sua moeda caia. Eles guardam estas reservas na moeda mais aceita do mundo, até agora o dólar. Mas na China, no Japão, e igualmente em Formosa e na Coréia do Sul, estas reservas de dólares subiram muito acima do que é estrategicamente necessário. Não é tanto porque estes bancos gostem de guardar os dólares, ao contrário. Estes países exportam muito e, em conseqüência, massas de dólares afluem para eles. Elas devem ser trocadas contra a moeda local para pagar os trabalhadores e as matérias-primas. Se a procura de dinheiro local empurra o seu curso para o alto, os produtos tornam-se mais caros para o estrangeiro. Assim, para não por em perigo a posição exportadora do país, os bancos centrais tentam manter o curso da moeda estável. E é por isso que compram dólares maciçamente, evitando assim que o curso da sua própria moeda aumente. Para estes países isto é um grande problema. Por todos estes dólares armazenados, os bancos centrais emitem dinheiro local. Portanto, de fato, os trabalhadores recebem inflação em troca dos seus produtos exportados. Desta maneira, exportam trabalho e matérias-primas em troca de nada. Para os bancos centrais, estes dólares rendem quase nada. Os dólares certamente podem ser trocados por obrigações, como os títulos do Tesouro, e render algum juro. Mas mesmo estes juros não pagam definitivamente senão a si próprios, uma vez que os Estados Unidos pagam-nos simplesmente com um novo aumento da sua dívida externa. Durante este período, o valor de todos estes dólares armazenados é tributário das flutuações de curso nos mercados de câmbio. E, além disso, devido à dívida externa gigantesca dos Estados Unidos, o dólar ameaça implodir a qualquer momento. Estes bancos centrais estão encalhados entre a necessidade de se desfazerem destas reservas de dólares, a necessidade de comprarem dólares para manterem o curso da sua própria moeda e, eventualmente, de comprar dólares quando o curso do mesmo arrisca-se a cair nos mercados mundiais de câmbio. Enquanto isso, os Estados Unidos deixam subir a sua dívida externa cada vez mais rapidamente.
          Peritos do Asian Development Bank estimam que o curso do dólar deveria descer de 30% a 40%. Tamanha baixa comporta o risco de que um número importante de bancos e empresas vendam os seus dólares rapidamente e que mesmo os bancos centrais não queiram ou não possam mais impedir a queda total do dólar. Aquele que vende os seus dólares em primeiro lugar safa-se, quem espera não tem senão de calcular as suas perdas.


          Para manter a procura permanente de dólares, as vendas de petróleo devem continuar em dólares. É por isso que os Estados Unidos tentam manter a maior influência possível, por um lado sobre o mercado do petróleo, pelo outro sobre os dirigentes locais. Deste modo asseguram simultaneamente o seu aprovisionamento em petróleo. E, para os dirigentes locais, há contratos lucrativos a obter com os quais se pode apropriar de um máximo de benefícios na produção de petróleo. Mas quando estes dirigentes locais não quiserem mais vender seu petróleo em dólares, os Estados Unidos terão um problema. Neste caso, o presidente dos Estados Unidos não explicará quanto o seu país é dependente da procura de dólares. O conflito será, pois, sempre camuflado. Para isso, sistematicamente, será escolhido um tema emocional. Outrora era o perigo comunista, hoje é o perigo terrorista, fundamentalista e outros medos populares tais como "O inimigo tem armas de destruição maciça" ou "O inimigo tenta fabricar armas nucleares". Isto faz com que, no caso de não existir qualquer prova, seja sem importância. As emoções dominarão sempre. Mesmo o fato de as acusações serem invertidas, com provas para demonstrar, não é notado por quase ninguém: os Estados Unidos têm armas de destruição maciça e já as utilizaram; os Estados Unidos têm armas nucleares e já as utilizaram. Em 2006 ainda ameaçaram fazer uso delas. Mas, mais uma vez, a partir do momento em que as acusações são vertidas emocionalmente, o ser humano desliga sua inteligência. A razão já não é um argumento para manter a paz. O teatro já não se concentra senão em torno das acusações. E uma vez que nenhum especialista de armas de destruição em massa ou de armas nucleares tem a palavra, praticamente ninguém descobre o problema real dos Estados. E foi assim que nasceu a idéia de um Grande Evento que seria o catalisador das novas estratégias de contenção das superpotências, a saber: China, Rússia (Eurásia) e Índia.  O Grande Evento teve sua data inaugural em 11 de setembro de 2001. 

Do Livro: O Longo Caminho até o 11 de Setembro.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Obama, a quem a Frente Al-Nusra favorece?

          
          A Frente Al-Nusra, às vezes referida como Jabhat al-Nusra  que significa: "A Frente de suporte para o povo da Síria", é uma milícia islâmica de orientação sunita e jihadista que opera na Síria, onde pretendia instituir um Estado Islâmico. Todavia, graças as bem organizadas forças de defesa sírias, esta milícia, associada a milhares de combatentes da Al-Qaeda, vem sofrendo derrotas e muitas baixas. Como estão perdendo as cidades que haviam conquistado, sendo, portanto, obrigados a recuar, estão optando por invadirem um país mais frágil e sem forças de segurança treinadas, além de mal equipadas. A saber, o Iraque.
          O grupo foi criado em 23 de janeiro de 2012 e passou a integrar as forças da oposição síria que está no meio de uma guerra civil para derrubar o presidente do país, Bashar al-Assad. O grupo é descrito como "um dos mais agressivos e eficientes a integrar as forças rebeldes sírias". Desde de dezembro de 2011, o governo dos Estados Unidos considera esta milícia como uma organização terrorista. Em abril de 2013, a al-Nursa jurou fidelidade ao chefe da al-Qaeda, com quem mantém laços ideológicos e logísticos.

          O grupo é descrito como um dos maiores e mais organizados das forças rebeldes dentro da Síria, lutando ao lado da oposição do país para derrubar o governo sírio que controla a nação. Contudo, ela também é acusada de vários atentados terroristas que causaram dezenas de mortos. Segundo informações de ativistas dentro e fora da Síria, a milícia al-Nusra impõe uma visão estrita da lei islâmica nos territórios que ocupa militarmente em nome da oposição.



          O principal dirigente da organização é um homem que utiliza o nome de guerra de Abu Mohammad al-Golani (ou Abu Mohammad al-Jawlani), no qual "Golani" é uma referência às Colinas de Golã. O chefe da organização teve seu nome retirado da lista de procurados do departamento de estado americano em fevereiro de 2014, poucos meses depois de ter jurado fidelidade ao chefe da Al-Qaeda. Também merecem destaque outros líderes como Maysar Ali Musa Abdallah al-Juburi e Anas Hasan Khattab, que foram alvo de sanções financeiras por parte do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, e Mustafa Abdel-Latif, também conhecido como Abu Anas al-Sahaba, um jordaniano que é cunhado de Abu Musab al-Zarqawi que foi o líder da Al-Qaeda no Iraque.

          Em meio aos encontros preparativos para a Conferência de Genebra II a respeito da situação da Síria, o Prof. Michel Chossudovsky, Diretor do Centro de Pesquisas em Globalização e Professor Emeritus da Universidade de Ottawa, chamou a atenção ao controverso papel que a administração Obama desempenha no conflito da Síria, assim também como a respeito da possibilidade de que o dirigente do governo dos Estados Unidos não só coopere com a Al-Qaeda, e outras organizações terroristas, como também fornece armas. Chossudovsky chama a atenção para o fato de se observar os vários relatos midiáticos, incluindo-se os da CNN e os da mídia  de Israel. Compreende-se que os rebeldes, e então nominadamente Al-Nusra, tem acesso a muitas armas. Entretanto, reconhece-se que as forças ditas ocidentais estão em realidade treinando os rebeldes da Al-Nusra na Jordânia e na Turquia. Isso foi confirmado num relatório da CNN, em 9 de dezembro. E o professor não para por aí. Mais além, ele aponta para a importância de se ater ao relato da missão independente da ONU, onde se confirmou que as forças rebeldes tem acesso ao neuro-gás sarin. Os investigadores dos direitos humanos da ONU fizeram realmente uma declaração a esse respeito, assim como refutaram as acusações de que as forças do governo na Síria estivessem  em posse de armas químicas, embora o governo as tenham em grande quantidade mas que, em acordo firmado com a ajuda da mediação russa, este material está sendo retirado da Síria. É fato terem afirmado que os rebeldes tinham não só possibilidade de acesso a armas químicas, mas também possuíam uma grande quantidade das mesmas . Quanto a isso, têm-se o relatório policial vindo da Turquia, o qual essencialmente confirma os relatos anteriores, uma vez que os terroristas da Al-Nursa apoiados pela aliança militar ocidental, foram presos tendo o gás sarin em  sua posse.

          Na opinião de Chossudovsky, ele acredita que já possou do ponto de perguntar se Obama está apoiando a Al-Qaeda. John Kerry está em direto contato com os comandantes os quais estão ligados aos rebeldes. Além disso, existem documentos razoavelmente abrangentes de que muito dinheiro e armamentos estão sendo canalizados aos rebeldes e de que esses rebeldes realmente estão na lista do departamento de estado americano como organizações terroristas. Esta afirmação, em sua essência, diz que essas organizações associadas a Al-Qaeda não estão mais sendo apoiadas só encobertamente pela CIA, mas que elas estão agora sendo abertamente apoiadas pelo Presidente dos Estados Unidos, assim como pelo Secretário do Estado o qual está em contato com comandantes dessas forças terroristas. Nomeia-se especialmente aqui então o intermediário General Idriss, o qual age com o Exército Livre da Síria estando constantemente em contato com os rebeldes.
          Assim, deveríamos entender que a administração Obama, e seus aliados, estão abrigando e ajudando uma organização terrorista a qual está na lista do departamento de estado americano caracterizada como organização terrorista, o que significa que o presidente Obama e o Secretário do Estado John Kerry poderiam ser responsabilizados sob a lei dos Estados Unidos. Assim, Chossudovsky argumenta que Obama está violando a “Lei Patriota” e de que ele está transgredindo a legislação anti-terrorista dos Estados Unidos. O governo dos Estados Unidos está realmente em bramante e ruidosa  violação de sua própria lei, enquanto empreende a denominada guerra ao terrorismo.
Referências e Notas:
Global Research, “Syria: Obama Overtly supports Al-Qaeda, Provides Terrorists with Chemical Weapons: Michel Chossudovsky

O resultado de tal transgressão, óbviamente não recai sobre aqueles que são os responsáveis de tais atos. Todavia, infelizmente, pesa sobre os inocentes. Justamente os que deveriam ser protegidos. Os terroristas e seus cúmplices não procuram nem esconder seus crimes. Ao contrário, os documentam e os apresentam sem temer a mão da justíça (talvez por saberem que ela anda com os olhos fechados pelas mãos da Casa Branca.
Algumas destas provas são tão terríveis que nem todos estão preparados para encará-las. Infelizmente, é preciso que o façamos! Para tanto, sugiro que acessem um link que disponibilizo.

Crimes Contra a Humanidade.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Obama, a quem a Al-Qaeda pertence?

A Comissão do 11 de Setembro, segundo as palavras de Snowden,
"Eles descobriram que tínhamos todas as informações que precisávamos como uma comunidade de inteligência ... para detectar e impedir os ataques de 11 de setembro."




          A Comissão que investigou os atentados de 11 de setembro, descobriu que as agências de inteligência possuíam informações necessárias para detectar e neutralizar a preparação e os ataques terroristas de 11 de setembro. Possuíam os registros das ligações telefônicas dos Estados Unidos para o exterior. A CIA sabia quem eram os membros da célula terrorista em solo americano. Snowden considera que o problema não estava nas informações que possuíam. Mas, que não compreenderam o que as mesmas significavam. Atualmente, a comunidade internacional tem consciência de que os ataques de 11 de setembro são exaustivamente utilizados pelo governo federal como justificativa principal para vigiar bilhões de pessoas em todo o mundo.

          Outro ex-executivo sênior da NSA, Thomas Drake, revelou, em 2005, os programas de vigilâncias inconstitucionais de americanos e, ainda, que a NSA possuía a inteligência crítica sobre a Al-Qaeda e sobre as movimentações dos seus membros. Todavia, a NSA não compartilhou estas análises com as outras agências. Embora possuíssem informações precisas sobre os iminentes ataques, nada fizeram. Após os mesmos, tanto a NSA, quantos a CIA e o FBI se aproveitaram da situação para aumentarem suas verbas para a vigilância em massa à nível global. Curiosamente, em 2013, o presidente Barack Obama revogou uma lei federal que impedia os EUA de armarem os terroristas, com a finalidade de fornecer apoio militar aos grupos que agem na Síria, sendo estes pertencentes à Jabhat Al-Qaeda e à Al-Nusra, como fizera anteriormente na derrubada do Regime da Líbia. E é por estas e outras que a comunidade internacional já começa a perguntar: "Obama, a quem a Al-Qaeda pertence?"

A NSA tinha todas as informações para deter o 911.

EUA usam terrorismo para gerir conflitos internacionais


A posição tomada pelos EUA e pelos países da União Europeia em relação à crise na Ucrânia contraria abertamente os princípios que esses países tentam pôr em prática em outras regiões, principalmente no mundo árabe.

Fica a sensação de que os países ocidentais neste momento não têm princípios firmes e que eles atuam exclusivamente a partir de posições do pragmatismo político. Ou dito de uma forma simples – para obter proveitos próprios. Essa é a opinião do analista e diretor editorial do jornal Al-Ahram, Amr Abdel Samie:
– Se olharmos para as relações entre a União Europeia e os EUA, por um lado, e a Rússia, por outro, ou para as posições da União Europeia e dos EUA relativamente à atual situação que se vive no Oriente Médio, especialmente no Egito, ou se olharmos para as posições da União Europeia e dos EUA relativamente à Líbia, essas gritantes contradições se tornam completamente evidentes. O establishment dos países ocidentais transmite constantemente a opinião que os EUA e a União Europeia combatem alegadamente com firmeza o terrorismo. Mas isso não é verdade. Se analisarmos os acontecimentos que ocorrem em diferentes regiões, nós veremos claramente que o terrorismo é realmente nesta altura o mais importante instrumento que os EUA e a União Europeia usam para gerir os conflitos internacionais."
Nos últimos três anos os EUA se tornaram no principal suporte do terrorismo islâmico em todo o mundo. Os EUA usam o terrorismo de forma a minar os regimes nacionais nos outros países de forma a orientar os acontecimentos na direção que interessa aos Estados Unidos.
Não é preciso ir longe para encontrar exemplos. Analisemos os recentes atentados ocorridos em Xinjiang, na China. Todos sabemos que os Estados Unidos não estão nada contra um enfraquecimento da China e o resultado é as autoridades chinesas não conseguirem acabar com o terrorismo islâmico em Xinjiang há muitos anos, apesar de todos seus esforços. O mesmo pode ser dito dos atentados terroristas no Cáucaso russo.
A China e a Rússia são hoje as principais circunstâncias irritantes para os EUA, e a sua aproximação constitui simplesmente um superpoderoso fator irritante. As razões para isso são compreensíveis. O poder combinado da Rússia e da China não deixa de impressionar. Ao estabelecer uma cooperação eficaz, esses dois países serão simplesmente invulneráveis às pressões externas. Um exemplo disso é o contrato do gás recentemente assinado entre Moscou e Pequim. Esse negócio tem um caráter estratégico e, simultaneamente, está intimamente ligado à atual situação política global. Ela debilita a pressão econômica por parte dos EUA e da União Europeia sobre a Rússia, aumentando ao mesmo tempo a pressão russa sobre a Europa, que é o aliado político principal dos Estados Unidos. A Rússia conseguiu criar uma aliança com a China para reduzir a influência norte-americana, e isso irá resultar em mais uma grande derrota numa série de futuras derrotas dos EUA. A América nada pode contrapor a essa aliança dos pontos de vista militar, econômico e político.
Restam os métodos “encobertos” de pressão. Eles incluem o terrorismo islâmico, que os Estados Unidos já há muito usam (e, infelizmente, com êxitos frequentes) para alcançar seus objetivos na região do Oriente Médio. Será lógico supor que o reforço dos laços russo-chineses estimule os Estados Unidos a dinamizar esse instrumento de pressão sobre esses dois países.
Mas os norte-americanos têm de perceber que esse instrumento é muito pouco confiável. Eles usaram os radicais islâmicos para mudar o regime na Líbia, mas acabaram obtendo um resultado precisamente contrário ao que esperavam. Na Síria os Estados Unidos apoiavam verbalmente os dissidentes liberais locais, mas na prática reforçavam os grupos radicais islâmicos que se opõem ao regime de Assad. No final ambos acabaram por perder. No Egito os EUA apoiaram a Irmandade Muçulmana para submeter o Egito à sua influência, mas acabaram por perder novamente.
O que se passa atualmente na Ucrânia? Os EUA apoiaram um golpe de Estado, organizado em Kiev contra o presidente Yanukovich por um grupo relativamente pequeno de pessoas. No entanto não reconheceram a revolução pacífica no Egito, onde no verão do ano passado milhões de pessoas saíram para as ruas para derrubar o regime de Mursi. Reparem: por todo o lado os EUA se colocam ao lado das forças que usam métodos violentos e abertamente terroristas. Isso já configura uma tendência estável que é impossível deixar de notar – apesar de a principal mídia ocidental não ver as evidências, como é natural.
Mas nós vemo-las claramente, inclusive no exemplo do nosso próprio país. Nós vemos, e sentimos pessoalmente, que os EUA e a União Europeia não atuam partindo de alegados princípios morais elevados, mas exclusivamente em prol dos seus interesses práticos, e para os atingir não são muito escrupulosos na escolha de seus métodos.

Do jornal Al-Ahram, Amr Abdel Samie (analista e diretor editorial).

Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_05_30/terrorismo-e-instrumento-principal-dos-eua-na-gestao-de-conflitos-internacionais-6910/