O Longo Caminho até o 11 de Setembro

O Longo Caminho até o 11 de Setembro
A verdadeira história do 11 de setembro

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Obama, a quem a Al-Qaeda pertence?

A Comissão do 11 de Setembro, segundo as palavras de Snowden,
"Eles descobriram que tínhamos todas as informações que precisávamos como uma comunidade de inteligência ... para detectar e impedir os ataques de 11 de setembro."




          A Comissão que investigou os atentados de 11 de setembro, descobriu que as agências de inteligência possuíam informações necessárias para detectar e neutralizar a preparação e os ataques terroristas de 11 de setembro. Possuíam os registros das ligações telefônicas dos Estados Unidos para o exterior. A CIA sabia quem eram os membros da célula terrorista em solo americano. Snowden considera que o problema não estava nas informações que possuíam. Mas, que não compreenderam o que as mesmas significavam. Atualmente, a comunidade internacional tem consciência de que os ataques de 11 de setembro são exaustivamente utilizados pelo governo federal como justificativa principal para vigiar bilhões de pessoas em todo o mundo.

          Outro ex-executivo sênior da NSA, Thomas Drake, revelou, em 2005, os programas de vigilâncias inconstitucionais de americanos e, ainda, que a NSA possuía a inteligência crítica sobre a Al-Qaeda e sobre as movimentações dos seus membros. Todavia, a NSA não compartilhou estas análises com as outras agências. Embora possuíssem informações precisas sobre os iminentes ataques, nada fizeram. Após os mesmos, tanto a NSA, quantos a CIA e o FBI se aproveitaram da situação para aumentarem suas verbas para a vigilância em massa à nível global. Curiosamente, em 2013, o presidente Barack Obama revogou uma lei federal que impedia os EUA de armarem os terroristas, com a finalidade de fornecer apoio militar aos grupos que agem na Síria, sendo estes pertencentes à Jabhat Al-Qaeda e à Al-Nusra, como fizera anteriormente na derrubada do Regime da Líbia. E é por estas e outras que a comunidade internacional já começa a perguntar: "Obama, a quem a Al-Qaeda pertence?"

A NSA tinha todas as informações para deter o 911.

EUA usam terrorismo para gerir conflitos internacionais


A posição tomada pelos EUA e pelos países da União Europeia em relação à crise na Ucrânia contraria abertamente os princípios que esses países tentam pôr em prática em outras regiões, principalmente no mundo árabe.

Fica a sensação de que os países ocidentais neste momento não têm princípios firmes e que eles atuam exclusivamente a partir de posições do pragmatismo político. Ou dito de uma forma simples – para obter proveitos próprios. Essa é a opinião do analista e diretor editorial do jornal Al-Ahram, Amr Abdel Samie:
– Se olharmos para as relações entre a União Europeia e os EUA, por um lado, e a Rússia, por outro, ou para as posições da União Europeia e dos EUA relativamente à atual situação que se vive no Oriente Médio, especialmente no Egito, ou se olharmos para as posições da União Europeia e dos EUA relativamente à Líbia, essas gritantes contradições se tornam completamente evidentes. O establishment dos países ocidentais transmite constantemente a opinião que os EUA e a União Europeia combatem alegadamente com firmeza o terrorismo. Mas isso não é verdade. Se analisarmos os acontecimentos que ocorrem em diferentes regiões, nós veremos claramente que o terrorismo é realmente nesta altura o mais importante instrumento que os EUA e a União Europeia usam para gerir os conflitos internacionais."
Nos últimos três anos os EUA se tornaram no principal suporte do terrorismo islâmico em todo o mundo. Os EUA usam o terrorismo de forma a minar os regimes nacionais nos outros países de forma a orientar os acontecimentos na direção que interessa aos Estados Unidos.
Não é preciso ir longe para encontrar exemplos. Analisemos os recentes atentados ocorridos em Xinjiang, na China. Todos sabemos que os Estados Unidos não estão nada contra um enfraquecimento da China e o resultado é as autoridades chinesas não conseguirem acabar com o terrorismo islâmico em Xinjiang há muitos anos, apesar de todos seus esforços. O mesmo pode ser dito dos atentados terroristas no Cáucaso russo.
A China e a Rússia são hoje as principais circunstâncias irritantes para os EUA, e a sua aproximação constitui simplesmente um superpoderoso fator irritante. As razões para isso são compreensíveis. O poder combinado da Rússia e da China não deixa de impressionar. Ao estabelecer uma cooperação eficaz, esses dois países serão simplesmente invulneráveis às pressões externas. Um exemplo disso é o contrato do gás recentemente assinado entre Moscou e Pequim. Esse negócio tem um caráter estratégico e, simultaneamente, está intimamente ligado à atual situação política global. Ela debilita a pressão econômica por parte dos EUA e da União Europeia sobre a Rússia, aumentando ao mesmo tempo a pressão russa sobre a Europa, que é o aliado político principal dos Estados Unidos. A Rússia conseguiu criar uma aliança com a China para reduzir a influência norte-americana, e isso irá resultar em mais uma grande derrota numa série de futuras derrotas dos EUA. A América nada pode contrapor a essa aliança dos pontos de vista militar, econômico e político.
Restam os métodos “encobertos” de pressão. Eles incluem o terrorismo islâmico, que os Estados Unidos já há muito usam (e, infelizmente, com êxitos frequentes) para alcançar seus objetivos na região do Oriente Médio. Será lógico supor que o reforço dos laços russo-chineses estimule os Estados Unidos a dinamizar esse instrumento de pressão sobre esses dois países.
Mas os norte-americanos têm de perceber que esse instrumento é muito pouco confiável. Eles usaram os radicais islâmicos para mudar o regime na Líbia, mas acabaram obtendo um resultado precisamente contrário ao que esperavam. Na Síria os Estados Unidos apoiavam verbalmente os dissidentes liberais locais, mas na prática reforçavam os grupos radicais islâmicos que se opõem ao regime de Assad. No final ambos acabaram por perder. No Egito os EUA apoiaram a Irmandade Muçulmana para submeter o Egito à sua influência, mas acabaram por perder novamente.
O que se passa atualmente na Ucrânia? Os EUA apoiaram um golpe de Estado, organizado em Kiev contra o presidente Yanukovich por um grupo relativamente pequeno de pessoas. No entanto não reconheceram a revolução pacífica no Egito, onde no verão do ano passado milhões de pessoas saíram para as ruas para derrubar o regime de Mursi. Reparem: por todo o lado os EUA se colocam ao lado das forças que usam métodos violentos e abertamente terroristas. Isso já configura uma tendência estável que é impossível deixar de notar – apesar de a principal mídia ocidental não ver as evidências, como é natural.
Mas nós vemo-las claramente, inclusive no exemplo do nosso próprio país. Nós vemos, e sentimos pessoalmente, que os EUA e a União Europeia não atuam partindo de alegados princípios morais elevados, mas exclusivamente em prol dos seus interesses práticos, e para os atingir não são muito escrupulosos na escolha de seus métodos.

Do jornal Al-Ahram, Amr Abdel Samie (analista e diretor editorial).

Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_05_30/terrorismo-e-instrumento-principal-dos-eua-na-gestao-de-conflitos-internacionais-6910/

sexta-feira, 9 de maio de 2014

O Furacão Monica Lewinsky


Com a economia reluzindo, sem inflação e desemprego, o crime em baixa e nenhum inimigo externo capaz de afrontar a potência americana, Clinton estava se preparando para entrar na história como o administrador de uma época dourada, de prosperidade e paz. Até seus esforços de valorizar o governo, sem gastança excessiva e com sobras no orçamento, estavam dando certo. A imprensa e, especialmente, as redes de televisão americanas viviam num ambiente de calmaria. Durante cinco anos na presidência, Bill Clinton safou-se das maiores orquestrações já armadas contra um presidente americano, neste século. Um a um, ele foi derrubando esses ataques ou, quando não podia, minimizando as acusações, falsas ou não suficientemente comprovadas. Assim, ele batia recordes de aprovação nas pesquisas de opinião. Apesar das amantes, dos ricos e sinistros contribuintes de campanha, da vulgarização da Casa Branca, transformada num hotel para doadores generosos, o presidente tinha na economia sólida um pára-raios aparentemente intransponível. Foi neste momento que seus inimigos começaram a massacrar a sua imagem.
No dia 17 de janeiro de 1998, o presidente Bill Clinton prestou um depoimento inédito na história da política americana. Pela primeira vez, um presidente foi interrogado como réu. Clinton estava diante dos advogados da morena do Arkansas, Paula Jones, que havia feito uma acusação pesada de assédio sexual contra o presidente. Tratava-se de um pedido de favores que ele lhe havia feito, quando ainda era governador do Arkansas. Ela pedia na justíça uma indenização além de um pedido público de desculpas. Na tentativa de provar que Clinton era um conquistador incorrigível, os advogados de Paula saíram à caça de todas as mulheres que, real ou supostamente, tivessem se envolvido com o presidente. Em segredo de justíça, colocaram em pauta o caso Monica Lewinsky, até então desconhecido da opinião pública. Indagado sobre Monica, Clinton negou qualquer relacionamento sexual. Foi quando cometeu um erro que lhe custaria caro, pois ao negar, já que estava sob juramento, cometeu perjúrio. Para este mesmo processo, os advogados de Paula convocaram Monica para depor. Foi aí que, em desespero, o presidente cometeu seu segundo erro: Clinton acionou o amigo de todas as horas, o advogado Vernon Jordan, para incentivar e ensinar Monica como enganar um juiz. E, de acordo com as orientações, Monica também negou o romance.
“O senhor manteve relações sexuais com essa jovem?”, perguntou Jim Lehrer, que comanda, no canal governamental PBS, o mais respeitado programa político da televisão americana. “Não há relacionamento sexual.”, respondeu Clinton, usando de modo evasivo e suspeito o verbo no tempo presente. Quando Lehrer perguntou ao presidente se ele, ou alguém a pedido dele, tentou convencer Monica a mentir em juízo para protegê-lo, Clinton escondeu-se numa resposta ensaiada: “Não pedi a ninguém para falar nada que não fosse verdade”. Ficou no ar a forte impressão de que o presidente tinha algo a esconder. Cada palavra dos assessores era medida e pesada pelo advogado Robert Bennett, antes de ser pronunciada.
A capacidade de comunicação de Clinton, um político experiente, chegou a falhar. A certa altura, entre uma reunião na Casa Branca com o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu e a iminente visita do líder palestino Yasser Arafat, ele desabafou: “Preciso controlar meus impulsos naturais e voltar ao trabalho. Há muita coisa a ser feita.”, disse o presidente referindo-se, obviamente, à raiva que sentia de seus acusadores. Não houve um comentarista que não concordasse que o presidente precisava mesmo “controlar seus impulsos”, mas não necessariamente a raiva.
Nomear um promotor especial é uma maneira de investigar um presidente, teóricamente, longe dos venenos e intemperanças das disputas partidárias. Seu papel é tradicional na democracia americana. Desde que se conhecera como presidente, Clinton tinha um promotor especial em seu encalço. Ronald Reagan e George Bush também os tiveram. Esse em questão, Kenneth Starr, renasceu com o caso Monica Lewinsky. Ele andava apagado, depois de ter consumido quatro anos de trabalho e pelo menos US$ 30 milhões de dólares de dinheiro público, sem ter conseguido enquadrar o presidente ou sua esposa em qualquer artigo do código penal, com relação ao chamado caso Whitewater, nome genérico de falcatruas imobiliárias e financeiras em que Bill e Hillary Clinton se envolveram em Arkansas há muitos anos atrás. “Persigo a verdade, não o presidente.”, afirmava Starr.
Orientada, Linda Tripp, que era funcionária do Pentágono, procurou o promotor e lhe entregou dezessete fitas contendo as gravações das conversas íntimas entre ela e Monica Lewinsky. Nestas conversas, além das revelações íntimas, o que mais interessava à Justíça, no entanto, eram as operações de acobertamento do caso conduzidas, segundo o que Monica contava a Linda, por Vernon Jordan. Naquela ocasião, Monica se referia ao presidente como “ele” ou “o canalha”. Ela tinha medo de ir para a cadeia porque ao contrário do que dizia nas suas conversas com a amiga, assinou um depoimento oficial garantindo que nunca teve nada com Clinton. Confusa, discutiu com Linda se deveria continuar mentindo ou abrir tudo. Monica sondava a amiga sobre a possibilidade de que ela também prestasse falso testemunho, e aí entrava um documento misterioso, com instruções sobre como Linda deveria mentir em juízo. Foi nesse ponto que Linda levou o caso ao promotor Kenneth Starr. Com a ajuda dela, agentes do FBI, a serviço de Starr, grampearam, eles próprios, uma conversa entre as duas mulheres. Durante um almoço no restaurante do elegante Ritz Carlton, na capital americana, dois agentes aproximaram-se da mesa onde ambas se preparavam para comer e chamaram Monica para uma conversa. Ela saiu dali certa de que estava numa fria.
Nas conversas com Linda, Monica dava mostras de como torcia desesperadamente para que Clinton fizesse um acordo com os advogados de Paula Jones e pusesse fim ao processo. Esse processo tornaria seu falso depoimento, um documento desnecessário, esquecido. Essa era a única passagem conhecida das fitas, em que Monica Lewinsky parecia desesperada. “Ele não vai fazer o acordo”, disse Monica. “Ele se recusa.” Em outro trecho, diria a Linda que não conseguiria contar a Clinton que já havia revelado o caso deles para muita gente. “Se eu fizer isso, vou simplesmente acabar me suicidando.” Em diversas passagens das fitas, Monica dava a entender que se encontrou com Vernon Jordan. Em nenhum momento, porém, ela disse explicitamente que Jordan lhe pedira para mentir.
Pela primeira vez num instante de crise e de desafio à credibilidade do governo Clinton, 54% dos americanos, de acordo com pesquisas CNN/Gallup, achavam que o presidente estava mentindo. Onde antes só havia boatos, suspeitas e maledicências, passaram a existir fitas, documentos escritos, testemunhas de carne e osso e um promotor, Kenneth Starr, com faro de caçador, alma de puritano e disposição quase religiosa de fazer uma faxina na Casa Branca.
De acordo com os planos de inimigos ocultos, cuja finalidade, além de destruir a imagem do governo democrata e, particularmente, do presidente Clinton, era a de camuflar o início das operações secretas que mudariam para sempre, as relações que a América mantinha com as Nações Unidas, no comércio e nas relações exteriores com as demais nações. Nestes planos, estava incluída também e eleição de um novo presidente Republicano, que já haviam escolhido para disputar as prévias do partido. Tratava-se de ninguém menos do que George Walker Bush.
A história do escândalo sexual e das mentiras nos depoimentos oficiais explodiu como uma bomba, diante de um país estarrecido e de um presidente com ar perigosamente acuado, pois perjúrio e obstrução da Justiça são crimes sérios nos Estados Unidos. Nixon caiu em 1974 por essas mesmas razões legais. Assim, a palavra “impeachment” queimava nos lábios dos adversários e, espantosamente, também na boca dos amigos do presidente. “Se as acusações forem verdadeiras, elas podem dar início a um processo de impedimento legal do presidente”, reconheceu George Stephanopoulos, um dos mais leais buldogues de Clinton, a quem, como assessor, ajudou a eleger duas vezes.
Com um clima de crise pairando sobre Washington, de maneira particularmente agourenta, dezenas de intimações foram disparadas para a Casa Branca, com a precisão de mísseis guiados a laser. Vernon Jordan, Betty Currie (era o nome da fiel secretária que Monica dava, depois de ter saído da Casa Branca, nas visitas que fazia à sede da Presidência), o chefe do serviço secreto e mais três assessores diretos do presidente, teriam de depor em juízo. Jordan, já enroscado em antigas transações de Clinton, negou tudo. Restava, assim, a Bill Clinton, lutar para salvar sua presidência.

Membro do CFR, Clinton correu a Nova York para pedir proteção aos seus colegas. Entre eles, o patrono David Rockefeller. Não tardou muito para que uma solução fosse apontada. Contudo, ela custaria um esforço de guerra contra um ditador surgido em outro continente. Mas precisamente na Europa, na região conhecida como Balcãs.

Do Livro:
O Longo Caminho até o 11 de Setembro.

domingo, 4 de maio de 2014

A Guerra do Kosovo


O Kosovo situa-se a sudoeste da Sérvia, encaixado entre a Albânia, o Montenegro, a Sérvia e a Macedônia. É uma região montanhosa com os vales de Kosovo a Norte, Metohija (Kosmet) a Oeste, Gnjilane a Este, Malo Kosovo a Nordeste e Drenica no centro. A população do Kosovo, kosovars, é majoritáriamente albanesa (90%). Os albaneses consideram-se descendentes dos povos balcânicos pré-românicos, os Ilírios e em particular os Dardanianos, que antes da ocupação romana habitavam as regiões da Albânia, Kosovo e Oeste da Macedônia.
No século XII os Sérvios vindos do Norte ocupam a região hoje conhecida por Kosovo. Em 28 de Junho de 1389, em Kosovo Poljie (Campo dos Melros) o exército sérvio do Príncipe Lazar enfrentou os turcos otomanos na Batalha de Kosovo. O exército sérvio foi derrotado e o Príncipe Lazar, morto. A região foi ocupada pelos otomanos. Os albaneses convertem-se em larga escala ao islamismo, por outro lado os sérvios mais resistentes são perseguidos e muitos acabam por emigrar para o Norte (Vojvodina, Krajinas).
A Batalha do Kosovo é um marco histórico e mítico para a nação sérvia e a sua data constitui o dia nacional da Sérvia. A derrota marcou o inicio da decadência do Reino dos Sérvios que em 1459 seria submetido ao Império Otomano. Os albaneses islamizados assumem lugares privilegiados na administração otomana, e como tal considerados aliados dos turcos.
A Sérvia só volta a recuperar o Kosovo no final das guerras balcânicas (1912-1913). O Kosovo faz parte do Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos. Durante a II Guerra foi anexado à Albânia ocupada pelos italianos. Com o final da II Guerra o Kosovo passou a integrar a Iugoslávia Socialista de Tito, como parte da República da Sérvia.
Tito lidou sempre com habilidade e "mão de ferro" com os nacionalismos eslavos. Em relação ao Kosovo, e de forma a acalmar a população albanesa (majoritária no Kosovo, mas minoritária no âmbito da Sérvia ou da Iugoslávia) e simultaneamente amputar o nacionalismo sérvio de um dos seus símbolos mais fortes, foi dando progressivamente autonomia à região. A esta política não foi estranha a ambição de Tito de juntar a Albânia à própria federação iugoslava.
A Constituição Iugoslava de 1946 criou a Região Autônoma do Kosovo-Metohija, posteriormente a Constituição de 1974 criou a Província Autônoma do Kosovo (ao mesmo tempo foi criada a Província Autônoma da Vojvodina), com governo e parlamento próprios. As Províncias Autônomas possuem assento na presidência coletiva da Federação Iugoslava.
Slobodan Milosevic, líder dos comunistas sérvios assumiu a defesa do nacionalismo sérvio e em 1989, com a anuência dos comunistas do Kosovo e da Vojvodina faz alterar a Constituição da Sérvia e retirou a autonomia das províncias. O Kosovo passou a ser objeto de medidas discriminatórias dos albaneses e viveu sob um clima de tensão e conflito.
Em 22 de Setembro de 1991, num referendo clandestino, os kosovares pronunciaram-se a favor da independência. A independência, no entanto não foi reconhecida internacionalmente. Em 24 de Maio de 1992, em eleições não oficiais a maioria albanesa do Kosovo elegeu presidente o escritor Ibrahim Rugova, líder da Liga Democrática do Kosovo (LDK).
Rugova e a LDK seguiram uma política moderada e evitaram o confronto com os sérvios. Rugova defendia inicialmente a continuação na Iugoslávia, mas com o estatuto de república. Os kosovares criaram uma autêntica sociedade paralela, com as suas escolas e instituições independentes das do governo sérvio. Esta resistência passiva evitou os confrontos mas não levou a nenhuma solução.
A difícil situação econômica da Sérvia, objeto de várias sanções da comunidade internacional pela sua intervenção no conflito da Bósnia, faz-se sentir duramente na região do Kosovo-Metohija (designação oficial sérvia do Kosovo) desde há muito a região mais pobre da república. A crescente discriminação e perseguição da comunidade albanesa majoritária na região faz crescer o descontentamento e aumentou as fileiras dos nacionalistas albaneses. Forças nacionalistas como o Exército de Libertação do Kosovo - UÇK (Ushtria Çlirimtare e Kosovës) defendiam a ruptura com a Iugoslávia, e a união com a Albânia.
As primeiras ações do UÇK foram efetuadas em 1992 na Macedônia. Em 1995 iniciaram as primeiras ações armadas contra esquadras de polícia no Kosovo e em Junho de 1996 surgiram pela primeira vez em público. O tipo de atuação do UÇK valeu-lhe ser classificado pelas autoridades de Belgrado, desde logo, de "grupo terrorista". O UÇK era constituído por vários grupos com uma atuação, até recentemente, pouco coordenada, para além da reivindicação à independência, não existia um suporte ideológico definido e os seus lideres mais conhecidos tinham várias divergências entre si.
A situação no Kosovo começou a agravar-se após os Acordos de Dayton para a Bósnia-Herzegovina. A população de etnia albanesa faz sentir o seu descontentamento por a "Questão do Kosovo" não ser contemplada nos acordos. O Kosovo com uma das taxas de natalidade mais altas da Europa, em particular na população de etnia albanesa, tem igualmente uma taxa de desemprego que ronda os 70%.
A situação torna-se ainda mais violenta e no inicio de 1998 a polícia especial sérvia desencadeou ações militares contra os bastiões do UÇK nas regiões de Drenica e da capital, Pristina. Os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a França, a Itália e a Rússia constituíram um Grupo de Contato no sentido de procurar a obtenção de uma saída pacífica para o conflito. Em Março de 1998 as Nações Unidas, através da Resolução 1160 do Conselho de Segurança condenaram a utilização da violência no Kosovo. O Grupo de Contato propôs o fim das hostilidades, o regresso de refugiados, a retirada das forças militares sérvias e a monitorização por observadores internacionais. Após complicadas negociações e pressão dos países da OTAN, o embaixador Richard Holbrooke obteve da Iugoslávia um acordo sobre a aceitação de uma missão de observadores da OSCE. Em 25 de outubro de 1998, com a aprovação das Nações Unidas (Resolução 1203), foi estabelecida a Kosovo Verification Mission (KVM).
Apesar dos esforços da KVM a situação continuou muito tensa com várias ações levadas a cabo pelos elementos do UÇK e da policia sérvia. A escalada da violência atingiu o seu auge em Janeiro de 1999, com um alegado massacre de civis albaneses na povoação de Racak, no Kosovo.
Com grande custo o Grupo de Contato conseguiu juntar todas as partes à mesa de conversações em Rambouillet - França (7 a 17 de fevereiro de 1999). As negociações levaram à preparação de um texto de acordo que, genéricamente, previa a autonomia do Kosovo, a sua desmilitarização e o estabelecimento de uma força de manutenção da paz com militares da OTAN. A proposta de acordo não agradou totalmente às partes em conflito, mas acabou por ser assinada pelos representantes albaneses do Kosovo, e recusada pela Iugoslávia, nomeadamente nos pontos que implicavam a saída das suas forças militares e o estabelecimento de uma força de manutenção de paz.
A OTAN, cedendo a pressões de Washington, continuou com a política de pressão já iniciada no final de 1998, ameaçando desencadear ataques aéreos, caso a Iugoslávia se recusasse a assinar o plano de paz de Rambouillet. A Iugoslávia foi intransigente e pelo contrário deslocava mais forças e continuou as operações militares no Kosovo.
Em 22 de março o Conselho do Atlântico Norte (NAC) autorizou o Secretário Geral da OTAN, Javier Solana, a desencadear os ataques aéreos sobre a Iugoslávia e dois dias depois se iniciou a operação Allied Force (24 de março). Tomaram parte na operação 13 países da OTAN. Em resposta aos bombardeamentos as forças sérvias intensificaram as operações no Kosovo, e iniciaram uma "limpeza" sistemática da população albanesa do Kosovo. Os refugiados chegaram aos milhares às fronteiras da Albânia, Macedônia e Montenegro, constituindo o maior desastre humanitário na Europa desde o final da II Guerra Mundial.
Javier Solana foi um dirigente histórico do Partido Socialista Espanhol (PSOE), e contou, para essa guerra, com o apoio principal de Gehard Schöder, Lionel Jospin, Massimo d’Alema e Anthony Blair, então respectivamente chefes dos Governos da Alemanha, da França, da Itália e do Reino Unido e membros eminentes, todos os quatro da social democracia européia. Todos aceitaram, para sair do impasse das negociações de paz em Rambouillet, a via militar proposta por Washington como “solução única”, ao passo que todos sabiam que o recurso à OTAN e os bombardeios da Sérvia acarretariam a morte de muitos civis inocentes e a destruição de todo um país, sem com isso evitar a extensão dos conflitos nas Balcãns, como provou a guerra da Macedônia em 2001.

O governo americano aproveitou a Guerra do Kosovo para mudar o foco da opinião pública sobre o caso interno do presidente Clinton com a ex-estagiária Mônica Lewinsky. Em pouco tempo, a mídia dos Estados Unidos veiculou a campanha militar da OTAN, liderada pela América, cuja falsa missão era a de libertar a população albanesa de um ditador. A popularidade de Clinton permaneceu em alta, contrariando, assim, os interesses dos Republicanos.

Do livro:
O Longo Caminho até o 11 de Setembro