O Longo Caminho até o 11 de Setembro

O Longo Caminho até o 11 de Setembro
A verdadeira história do 11 de setembro

domingo, 4 de maio de 2014

A Guerra do Kosovo


O Kosovo situa-se a sudoeste da Sérvia, encaixado entre a Albânia, o Montenegro, a Sérvia e a Macedônia. É uma região montanhosa com os vales de Kosovo a Norte, Metohija (Kosmet) a Oeste, Gnjilane a Este, Malo Kosovo a Nordeste e Drenica no centro. A população do Kosovo, kosovars, é majoritáriamente albanesa (90%). Os albaneses consideram-se descendentes dos povos balcânicos pré-românicos, os Ilírios e em particular os Dardanianos, que antes da ocupação romana habitavam as regiões da Albânia, Kosovo e Oeste da Macedônia.
No século XII os Sérvios vindos do Norte ocupam a região hoje conhecida por Kosovo. Em 28 de Junho de 1389, em Kosovo Poljie (Campo dos Melros) o exército sérvio do Príncipe Lazar enfrentou os turcos otomanos na Batalha de Kosovo. O exército sérvio foi derrotado e o Príncipe Lazar, morto. A região foi ocupada pelos otomanos. Os albaneses convertem-se em larga escala ao islamismo, por outro lado os sérvios mais resistentes são perseguidos e muitos acabam por emigrar para o Norte (Vojvodina, Krajinas).
A Batalha do Kosovo é um marco histórico e mítico para a nação sérvia e a sua data constitui o dia nacional da Sérvia. A derrota marcou o inicio da decadência do Reino dos Sérvios que em 1459 seria submetido ao Império Otomano. Os albaneses islamizados assumem lugares privilegiados na administração otomana, e como tal considerados aliados dos turcos.
A Sérvia só volta a recuperar o Kosovo no final das guerras balcânicas (1912-1913). O Kosovo faz parte do Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos. Durante a II Guerra foi anexado à Albânia ocupada pelos italianos. Com o final da II Guerra o Kosovo passou a integrar a Iugoslávia Socialista de Tito, como parte da República da Sérvia.
Tito lidou sempre com habilidade e "mão de ferro" com os nacionalismos eslavos. Em relação ao Kosovo, e de forma a acalmar a população albanesa (majoritária no Kosovo, mas minoritária no âmbito da Sérvia ou da Iugoslávia) e simultaneamente amputar o nacionalismo sérvio de um dos seus símbolos mais fortes, foi dando progressivamente autonomia à região. A esta política não foi estranha a ambição de Tito de juntar a Albânia à própria federação iugoslava.
A Constituição Iugoslava de 1946 criou a Região Autônoma do Kosovo-Metohija, posteriormente a Constituição de 1974 criou a Província Autônoma do Kosovo (ao mesmo tempo foi criada a Província Autônoma da Vojvodina), com governo e parlamento próprios. As Províncias Autônomas possuem assento na presidência coletiva da Federação Iugoslava.
Slobodan Milosevic, líder dos comunistas sérvios assumiu a defesa do nacionalismo sérvio e em 1989, com a anuência dos comunistas do Kosovo e da Vojvodina faz alterar a Constituição da Sérvia e retirou a autonomia das províncias. O Kosovo passou a ser objeto de medidas discriminatórias dos albaneses e viveu sob um clima de tensão e conflito.
Em 22 de Setembro de 1991, num referendo clandestino, os kosovares pronunciaram-se a favor da independência. A independência, no entanto não foi reconhecida internacionalmente. Em 24 de Maio de 1992, em eleições não oficiais a maioria albanesa do Kosovo elegeu presidente o escritor Ibrahim Rugova, líder da Liga Democrática do Kosovo (LDK).
Rugova e a LDK seguiram uma política moderada e evitaram o confronto com os sérvios. Rugova defendia inicialmente a continuação na Iugoslávia, mas com o estatuto de república. Os kosovares criaram uma autêntica sociedade paralela, com as suas escolas e instituições independentes das do governo sérvio. Esta resistência passiva evitou os confrontos mas não levou a nenhuma solução.
A difícil situação econômica da Sérvia, objeto de várias sanções da comunidade internacional pela sua intervenção no conflito da Bósnia, faz-se sentir duramente na região do Kosovo-Metohija (designação oficial sérvia do Kosovo) desde há muito a região mais pobre da república. A crescente discriminação e perseguição da comunidade albanesa majoritária na região faz crescer o descontentamento e aumentou as fileiras dos nacionalistas albaneses. Forças nacionalistas como o Exército de Libertação do Kosovo - UÇK (Ushtria Çlirimtare e Kosovës) defendiam a ruptura com a Iugoslávia, e a união com a Albânia.
As primeiras ações do UÇK foram efetuadas em 1992 na Macedônia. Em 1995 iniciaram as primeiras ações armadas contra esquadras de polícia no Kosovo e em Junho de 1996 surgiram pela primeira vez em público. O tipo de atuação do UÇK valeu-lhe ser classificado pelas autoridades de Belgrado, desde logo, de "grupo terrorista". O UÇK era constituído por vários grupos com uma atuação, até recentemente, pouco coordenada, para além da reivindicação à independência, não existia um suporte ideológico definido e os seus lideres mais conhecidos tinham várias divergências entre si.
A situação no Kosovo começou a agravar-se após os Acordos de Dayton para a Bósnia-Herzegovina. A população de etnia albanesa faz sentir o seu descontentamento por a "Questão do Kosovo" não ser contemplada nos acordos. O Kosovo com uma das taxas de natalidade mais altas da Europa, em particular na população de etnia albanesa, tem igualmente uma taxa de desemprego que ronda os 70%.
A situação torna-se ainda mais violenta e no inicio de 1998 a polícia especial sérvia desencadeou ações militares contra os bastiões do UÇK nas regiões de Drenica e da capital, Pristina. Os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a França, a Itália e a Rússia constituíram um Grupo de Contato no sentido de procurar a obtenção de uma saída pacífica para o conflito. Em Março de 1998 as Nações Unidas, através da Resolução 1160 do Conselho de Segurança condenaram a utilização da violência no Kosovo. O Grupo de Contato propôs o fim das hostilidades, o regresso de refugiados, a retirada das forças militares sérvias e a monitorização por observadores internacionais. Após complicadas negociações e pressão dos países da OTAN, o embaixador Richard Holbrooke obteve da Iugoslávia um acordo sobre a aceitação de uma missão de observadores da OSCE. Em 25 de outubro de 1998, com a aprovação das Nações Unidas (Resolução 1203), foi estabelecida a Kosovo Verification Mission (KVM).
Apesar dos esforços da KVM a situação continuou muito tensa com várias ações levadas a cabo pelos elementos do UÇK e da policia sérvia. A escalada da violência atingiu o seu auge em Janeiro de 1999, com um alegado massacre de civis albaneses na povoação de Racak, no Kosovo.
Com grande custo o Grupo de Contato conseguiu juntar todas as partes à mesa de conversações em Rambouillet - França (7 a 17 de fevereiro de 1999). As negociações levaram à preparação de um texto de acordo que, genéricamente, previa a autonomia do Kosovo, a sua desmilitarização e o estabelecimento de uma força de manutenção da paz com militares da OTAN. A proposta de acordo não agradou totalmente às partes em conflito, mas acabou por ser assinada pelos representantes albaneses do Kosovo, e recusada pela Iugoslávia, nomeadamente nos pontos que implicavam a saída das suas forças militares e o estabelecimento de uma força de manutenção de paz.
A OTAN, cedendo a pressões de Washington, continuou com a política de pressão já iniciada no final de 1998, ameaçando desencadear ataques aéreos, caso a Iugoslávia se recusasse a assinar o plano de paz de Rambouillet. A Iugoslávia foi intransigente e pelo contrário deslocava mais forças e continuou as operações militares no Kosovo.
Em 22 de março o Conselho do Atlântico Norte (NAC) autorizou o Secretário Geral da OTAN, Javier Solana, a desencadear os ataques aéreos sobre a Iugoslávia e dois dias depois se iniciou a operação Allied Force (24 de março). Tomaram parte na operação 13 países da OTAN. Em resposta aos bombardeamentos as forças sérvias intensificaram as operações no Kosovo, e iniciaram uma "limpeza" sistemática da população albanesa do Kosovo. Os refugiados chegaram aos milhares às fronteiras da Albânia, Macedônia e Montenegro, constituindo o maior desastre humanitário na Europa desde o final da II Guerra Mundial.
Javier Solana foi um dirigente histórico do Partido Socialista Espanhol (PSOE), e contou, para essa guerra, com o apoio principal de Gehard Schöder, Lionel Jospin, Massimo d’Alema e Anthony Blair, então respectivamente chefes dos Governos da Alemanha, da França, da Itália e do Reino Unido e membros eminentes, todos os quatro da social democracia européia. Todos aceitaram, para sair do impasse das negociações de paz em Rambouillet, a via militar proposta por Washington como “solução única”, ao passo que todos sabiam que o recurso à OTAN e os bombardeios da Sérvia acarretariam a morte de muitos civis inocentes e a destruição de todo um país, sem com isso evitar a extensão dos conflitos nas Balcãns, como provou a guerra da Macedônia em 2001.

O governo americano aproveitou a Guerra do Kosovo para mudar o foco da opinião pública sobre o caso interno do presidente Clinton com a ex-estagiária Mônica Lewinsky. Em pouco tempo, a mídia dos Estados Unidos veiculou a campanha militar da OTAN, liderada pela América, cuja falsa missão era a de libertar a população albanesa de um ditador. A popularidade de Clinton permaneceu em alta, contrariando, assim, os interesses dos Republicanos.

Do livro:
O Longo Caminho até o 11 de Setembro

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