O Longo Caminho até o 11 de Setembro

O Longo Caminho até o 11 de Setembro
A verdadeira história do 11 de setembro

sexta-feira, 9 de maio de 2014

O Furacão Monica Lewinsky


Com a economia reluzindo, sem inflação e desemprego, o crime em baixa e nenhum inimigo externo capaz de afrontar a potência americana, Clinton estava se preparando para entrar na história como o administrador de uma época dourada, de prosperidade e paz. Até seus esforços de valorizar o governo, sem gastança excessiva e com sobras no orçamento, estavam dando certo. A imprensa e, especialmente, as redes de televisão americanas viviam num ambiente de calmaria. Durante cinco anos na presidência, Bill Clinton safou-se das maiores orquestrações já armadas contra um presidente americano, neste século. Um a um, ele foi derrubando esses ataques ou, quando não podia, minimizando as acusações, falsas ou não suficientemente comprovadas. Assim, ele batia recordes de aprovação nas pesquisas de opinião. Apesar das amantes, dos ricos e sinistros contribuintes de campanha, da vulgarização da Casa Branca, transformada num hotel para doadores generosos, o presidente tinha na economia sólida um pára-raios aparentemente intransponível. Foi neste momento que seus inimigos começaram a massacrar a sua imagem.
No dia 17 de janeiro de 1998, o presidente Bill Clinton prestou um depoimento inédito na história da política americana. Pela primeira vez, um presidente foi interrogado como réu. Clinton estava diante dos advogados da morena do Arkansas, Paula Jones, que havia feito uma acusação pesada de assédio sexual contra o presidente. Tratava-se de um pedido de favores que ele lhe havia feito, quando ainda era governador do Arkansas. Ela pedia na justíça uma indenização além de um pedido público de desculpas. Na tentativa de provar que Clinton era um conquistador incorrigível, os advogados de Paula saíram à caça de todas as mulheres que, real ou supostamente, tivessem se envolvido com o presidente. Em segredo de justíça, colocaram em pauta o caso Monica Lewinsky, até então desconhecido da opinião pública. Indagado sobre Monica, Clinton negou qualquer relacionamento sexual. Foi quando cometeu um erro que lhe custaria caro, pois ao negar, já que estava sob juramento, cometeu perjúrio. Para este mesmo processo, os advogados de Paula convocaram Monica para depor. Foi aí que, em desespero, o presidente cometeu seu segundo erro: Clinton acionou o amigo de todas as horas, o advogado Vernon Jordan, para incentivar e ensinar Monica como enganar um juiz. E, de acordo com as orientações, Monica também negou o romance.
“O senhor manteve relações sexuais com essa jovem?”, perguntou Jim Lehrer, que comanda, no canal governamental PBS, o mais respeitado programa político da televisão americana. “Não há relacionamento sexual.”, respondeu Clinton, usando de modo evasivo e suspeito o verbo no tempo presente. Quando Lehrer perguntou ao presidente se ele, ou alguém a pedido dele, tentou convencer Monica a mentir em juízo para protegê-lo, Clinton escondeu-se numa resposta ensaiada: “Não pedi a ninguém para falar nada que não fosse verdade”. Ficou no ar a forte impressão de que o presidente tinha algo a esconder. Cada palavra dos assessores era medida e pesada pelo advogado Robert Bennett, antes de ser pronunciada.
A capacidade de comunicação de Clinton, um político experiente, chegou a falhar. A certa altura, entre uma reunião na Casa Branca com o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu e a iminente visita do líder palestino Yasser Arafat, ele desabafou: “Preciso controlar meus impulsos naturais e voltar ao trabalho. Há muita coisa a ser feita.”, disse o presidente referindo-se, obviamente, à raiva que sentia de seus acusadores. Não houve um comentarista que não concordasse que o presidente precisava mesmo “controlar seus impulsos”, mas não necessariamente a raiva.
Nomear um promotor especial é uma maneira de investigar um presidente, teóricamente, longe dos venenos e intemperanças das disputas partidárias. Seu papel é tradicional na democracia americana. Desde que se conhecera como presidente, Clinton tinha um promotor especial em seu encalço. Ronald Reagan e George Bush também os tiveram. Esse em questão, Kenneth Starr, renasceu com o caso Monica Lewinsky. Ele andava apagado, depois de ter consumido quatro anos de trabalho e pelo menos US$ 30 milhões de dólares de dinheiro público, sem ter conseguido enquadrar o presidente ou sua esposa em qualquer artigo do código penal, com relação ao chamado caso Whitewater, nome genérico de falcatruas imobiliárias e financeiras em que Bill e Hillary Clinton se envolveram em Arkansas há muitos anos atrás. “Persigo a verdade, não o presidente.”, afirmava Starr.
Orientada, Linda Tripp, que era funcionária do Pentágono, procurou o promotor e lhe entregou dezessete fitas contendo as gravações das conversas íntimas entre ela e Monica Lewinsky. Nestas conversas, além das revelações íntimas, o que mais interessava à Justíça, no entanto, eram as operações de acobertamento do caso conduzidas, segundo o que Monica contava a Linda, por Vernon Jordan. Naquela ocasião, Monica se referia ao presidente como “ele” ou “o canalha”. Ela tinha medo de ir para a cadeia porque ao contrário do que dizia nas suas conversas com a amiga, assinou um depoimento oficial garantindo que nunca teve nada com Clinton. Confusa, discutiu com Linda se deveria continuar mentindo ou abrir tudo. Monica sondava a amiga sobre a possibilidade de que ela também prestasse falso testemunho, e aí entrava um documento misterioso, com instruções sobre como Linda deveria mentir em juízo. Foi nesse ponto que Linda levou o caso ao promotor Kenneth Starr. Com a ajuda dela, agentes do FBI, a serviço de Starr, grampearam, eles próprios, uma conversa entre as duas mulheres. Durante um almoço no restaurante do elegante Ritz Carlton, na capital americana, dois agentes aproximaram-se da mesa onde ambas se preparavam para comer e chamaram Monica para uma conversa. Ela saiu dali certa de que estava numa fria.
Nas conversas com Linda, Monica dava mostras de como torcia desesperadamente para que Clinton fizesse um acordo com os advogados de Paula Jones e pusesse fim ao processo. Esse processo tornaria seu falso depoimento, um documento desnecessário, esquecido. Essa era a única passagem conhecida das fitas, em que Monica Lewinsky parecia desesperada. “Ele não vai fazer o acordo”, disse Monica. “Ele se recusa.” Em outro trecho, diria a Linda que não conseguiria contar a Clinton que já havia revelado o caso deles para muita gente. “Se eu fizer isso, vou simplesmente acabar me suicidando.” Em diversas passagens das fitas, Monica dava a entender que se encontrou com Vernon Jordan. Em nenhum momento, porém, ela disse explicitamente que Jordan lhe pedira para mentir.
Pela primeira vez num instante de crise e de desafio à credibilidade do governo Clinton, 54% dos americanos, de acordo com pesquisas CNN/Gallup, achavam que o presidente estava mentindo. Onde antes só havia boatos, suspeitas e maledicências, passaram a existir fitas, documentos escritos, testemunhas de carne e osso e um promotor, Kenneth Starr, com faro de caçador, alma de puritano e disposição quase religiosa de fazer uma faxina na Casa Branca.
De acordo com os planos de inimigos ocultos, cuja finalidade, além de destruir a imagem do governo democrata e, particularmente, do presidente Clinton, era a de camuflar o início das operações secretas que mudariam para sempre, as relações que a América mantinha com as Nações Unidas, no comércio e nas relações exteriores com as demais nações. Nestes planos, estava incluída também e eleição de um novo presidente Republicano, que já haviam escolhido para disputar as prévias do partido. Tratava-se de ninguém menos do que George Walker Bush.
A história do escândalo sexual e das mentiras nos depoimentos oficiais explodiu como uma bomba, diante de um país estarrecido e de um presidente com ar perigosamente acuado, pois perjúrio e obstrução da Justiça são crimes sérios nos Estados Unidos. Nixon caiu em 1974 por essas mesmas razões legais. Assim, a palavra “impeachment” queimava nos lábios dos adversários e, espantosamente, também na boca dos amigos do presidente. “Se as acusações forem verdadeiras, elas podem dar início a um processo de impedimento legal do presidente”, reconheceu George Stephanopoulos, um dos mais leais buldogues de Clinton, a quem, como assessor, ajudou a eleger duas vezes.
Com um clima de crise pairando sobre Washington, de maneira particularmente agourenta, dezenas de intimações foram disparadas para a Casa Branca, com a precisão de mísseis guiados a laser. Vernon Jordan, Betty Currie (era o nome da fiel secretária que Monica dava, depois de ter saído da Casa Branca, nas visitas que fazia à sede da Presidência), o chefe do serviço secreto e mais três assessores diretos do presidente, teriam de depor em juízo. Jordan, já enroscado em antigas transações de Clinton, negou tudo. Restava, assim, a Bill Clinton, lutar para salvar sua presidência.

Membro do CFR, Clinton correu a Nova York para pedir proteção aos seus colegas. Entre eles, o patrono David Rockefeller. Não tardou muito para que uma solução fosse apontada. Contudo, ela custaria um esforço de guerra contra um ditador surgido em outro continente. Mas precisamente na Europa, na região conhecida como Balcãs.

Do Livro:
O Longo Caminho até o 11 de Setembro.

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