Timothy James McVeigh nasceu em
Pendleton, no ano de 1968 e cresceu num ambiente católico de classe média, em
Lockport, no Estado de Nova York. Filho e neto de operários, por duas gerações
sua família, perfeitamente integrada na comunidade, trabalhara em uma fábrica
de radiadores. Desde cedo, mostrou atração pela vida militar, assentando praça
aos 20 anos. Soldado modelo bateu recordes em desempenho e em disciplina. Na
guerra do Golfo, em 1991, combateu como artilheiro de tanque e por sua atuação,
aos 22 anos, recebera todas as condecorações possíveis. Tornou-se um herói de
guerra. Possuía como ambição, integrar os reputados Boinas Verdes, comando de
elite do exército. Entretanto, falhou nos testes de admissão, jamais voltando a
se candidatar e logo dando baixa no exército. Desiludiu-se com o governo de seu
país e com a forma que acreditou ser desumana, de como os Estados Unidos tratou
o povo iraquiano, impondo-lhes duras sanções econômicas e militares. Com a vida
sofrendo uma degradação brusca, a única saída para suas perícias, foi trabalhar
como guarda de segurança na esfera privada, na qual atuou durante algum tempo.
Quando cotejado aos píncaros emocionais da campanha e com o status de herói de
guerra, a nova situação revelou-se intolerável, e McVeigh deixou seus empregos,
preferindo ficar à deriva.
Nos Estados Unidos existem duas
tendências de extrema direita: uma, que se autodenomina “populista”, com raízes
em movimentos de pequenos proprietários rurais, que são contra o poder dos
bancos, que data da luta contra o padrão-ouro no século 19. Sua ideologia,
especificamente americana, é pouco familiar e difícil de compreender para os
estrangeiros. Proclama-se, nem direita nem esquerda; não se apresenta como
genéricamente racista, nem como fascista, mas como uma espécie de anarquismo de
direita, em rebelião contra o poder centralizado do governo federal e as altas
finanças. Ao contrário, a tendência “supremacista branca” considera-se
abertamente herdeira do hitlerismo e se enquadra sem dificuldades no que o
resto do mundo reconhece claramente como ultradireita neonazista. Os populistas
odeiam Wall Street, ainda mais que a esquerda mais radical. Um de seus textos
atribui a um grupo secreto de multimilionários organizados em torno do centro
financeiro do mundo a responsabilidade pelo III Reich, pela globalização e pelo
tráfico mundial de drogas. A Segunda Guerra Mundial teria sido planejada por
John D. Rockefeller, avô de David Rockefeller, e Prescott Bush, pai do
ex-presidente George Herbert Walker Bush.
Apesar do simplismo ideológico, não
faltam aos militantes populistas treinamento, competência militar e meios
técnicos para realizar atentados de porte. Responsáveis pelo grosso das
chamadas milícias, seus membros tem sido recrutados entre os soldados do
exército dos EUA e parte de suas armas e explosivos tem sido obtida, legal ou
ilegalmente, dos arsenais das forças armadas. Não lhes faltam conexões com o Taleban,
se estes acaso tiverem necessidade de sua cooperação: os mujahedins (guerreiros
sagrados) receberam treinamento militar dos EUA para combater o regime
pró-soviético do Afeganistão e compartilham com os populistas seu ódio aos
judeus e ao capital financeiro.
Um representante bem característico dos
populistas é James “Bo” Gritz, ex-tenente-coronel dos Boinas Verdes (Forças
Especiais do Exército americano) que combateu no Vietnã. Ele lidera uma milícia
e uma “comunidade Patriótica” em Idaho, chamada Almost Heaven (Quase Paraíso).
Em 1998, um de seus colaboradores admitiria ser culpado de embarcar num avião
comercial, um carregamento de explosivo plástico militar destinado ao
treinamento de rebeldes do Taleban, no deserto de Nevada.
McVeigh era um colecionador de armas e,
como tal, acabou sendo absorvido por uma instituição tipicamente
norte-americana, que é a subcultura dos armamentos. Grande número de pessoas,
boa parte das quais organizadas em milícias semi-clandestinas e paramilitares,
dispondo de publicações periódicas no ramo, dedica-se a freqüentar feiras
especializadas que se realizam pelo país todo com regularidade semanal. Nessas
feiras, todos se conhecem, compram, vendem ou barganham artigos legais e menos
legais – como excedentes do exército, fardas, metralhadoras, morteiros, rifles,
dinamite, estopins, munição, detonadores, componentes eletrônicos - enquanto
partilham das mesmas idéias. São essas idéias que distinguem a direita
americana de outras. Primeiramente, a fervorosa defesa da Constituição e dos
direitos civis, expressos na prerrogativa de comprar e portar todo tipo de
armamento. Nessa concepção, a liberdade é garantida pelo conjunto dos cidadãos
armados: um homem desarmado é presa fácil da tirania. Em segundo lugar, a
desconfiança, e resistência sem tréguas, ao governo e ao aparelho de estado, a
cujos serviços secretos atribuem uma conspiração em andamento para privá-los
das armas. Acreditam-se perseguidos pelo FBI e pela CIA, mas odeiam acima de
tudo a BATF, agência federal do Tabaco, Álcool e Armas de Fogo, com filial no
edifício demolido em
Oklahoma City. E por fim, porque se concebem como legítimos
herdeiros do espírito libertário que norteou a guerra da Independência, quando
os dominadores ingleses foram expulsos. Temendo o totalitarismo, recusam-se a
pagar impostos, a ter um número de inscrição na previdência social e a
cadastrar-se seja para o que for numa afirmação de individualismo.
McVeigh encontrou aí seus pares e,
embora não se tenha filiado a nenhuma milícia, começaria a negociar armamentos
e similares de feira em
feira. Também distribuía panfletos de sua autoria e etiquetas
com slogans, arregimentando contra a opressão exercida pelo governo.
Abandonando a legalidade, usaria documentos falsos, desde carteiras de
motorista a cartões telefônicos, com nomes também falsos. Ao deslizar para a
clandestinidade, prescindiria de domicílio fixo, vivendo largos períodos nas
casas dos camaradas de igual convicção, em trailers e em motéis.
Com o auxílio de dois desses amigos, e
de quatro extremistas islâmicos, também em guerra contra o governo dos EUA,
juntariam ingredientes químicos suficientes para a fabricação de uma bomba de
vastas proporções, pesando 3.500 quilos, com base em fertilizantes. Alguns
ingredientes roubariam, outros teriam que comprar. E acumularam tudo num
depósito alugado, e na propriedade de um deles. Para financiar o último estágio
das operações, assaltou a casa de outro amigo, expropriando seu arsenal e
outros bens. McVeigh sabia o que estava fazendo, e tudo ficava dentro da alçada
de suas especialidades, aprendidas na tropa.
McVeigh, certamente não agiu como uma pessoa
normalmente agiria, para escapar de uma captura. Apenas 90 minutos após a
explosão, ele foi parado por um policial, Charles Ragher, porque estava
dirigindo com excesso de velocidade, em uma zona de velocidade restrita. O
policial constatou que, além do seu carro ser velho, o mesmo não possuía placas
de identificação e não estava licenciado. Quando seu veículo foi vistoriado
pelo oficial, este lhe deu voz de prisão, após ter encontrado uma pistola, no
porta-luvas. McVeigh chegou a dizer para o policial que a arma estava
carregada, no que o mesmo lhe respondeu que a sua também estava. Conduzido à
cadeia mais próxima, logo seria identificado como o responsável pelo atentado,
graças ao número gravado no eixo (intacto e lançado a mais de 90 metros de distância)
do caminhão bomba, única peça que não se desintegrara e que havia sido
encontrada 1 hora após a explosão, e a identificação feita pelo proprietário do
hotel onde McVeigh havia se hospedado, que o havia reconhecido através do
retrato falado do suspeito que aparecera na televisão, no dia seguinte ao
atentado. As provas apresentadas foram apenas circunstanciais, sem testemunhas
que pusessem o acusado no local do crime, nem impressões digitais, ou algo
dessa ordem. Como o réu permaneceu mudo até após o término do julgamento, não
dispondo de melhores provas e sem confissão, seria praticamente impossível um
júri condenar alguém, quanto mais à pena capital. Todavia, foi o que aconteceu.
Em agosto de 1997, McVeigh foi condenado à morte. A execução foi marcada para o
dia 16 de maio de 2001, às 08:00 h.
Do livro: O Longo Caminho até o 11 de Setembro.
Do livro: O Longo Caminho até o 11 de Setembro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário