Entre os anos de 1996 e 1997, O´Neill
começou a advertir às agências de segurança americanas sobre as ameaças
crescentes do terrorismo. Ele alertou que grupos modernos de células
terroristas, operando dentro de dezenas de cidades dos Estados Unidos,
aparentemente não estavam sendo vigiados pelo governo. Indicou que se tratavam
de veteranos rebeldes da guerra contra a ocupação soviética, no Afeganistão e
que, outrora aliados, agora se tratavam de uma ameaça real e imediata. No ano
de 1997, John viajou para Nova York e assumiu o escritório do FBI como
responsável pela segurança nacional e contraterrorismo. Nesta época, ele já
estava obcecado por Osama bin Laden e conhecia suas ligações com o serviço
secreto árabe e a coroa saudita. Sabia que havia uma forte pressão, por parte
da liderânça da seita islâmica puritana dos wahabitas para que as bases e os
soldados americanos fossem removidos da Arábia Saudita. Sabia, ainda, que
membros da CIA e pessoas muito importantes do Departamento de Estado estavam
elaborando um plano, em conjunto com os árabes, para a solução final do
problema. Infelizmente, O´Neill não conhecia tais planos.
O Discurso de John Patrick O´Neill
Durante o mês de junho de 1997, John
P. O´Neill proferiu um discurso durante o Fórum de Estratégia Nacional, na
cidade de Chicago. Após vários elogios
acerca do qual ele considerava ser o melhor departamento de polícia dos Estados
Unidos, O´Neill foi direto ao objeto de sua apresentação: o terrorismo
doméstico.
“A definição de terrorismo, em sua
forma simplificada é o uso da violência ou da ameaça de violência, para se
obter vantagens sobre uma agenda política ou social”. Citou, como exemplo, o
atentado na cidade de Oklahoma.
O´Neill comentou que o governo
americano possuía um programa para o terrorismo internacional, que tratava dos
atos de violência com motivação política ou social, nos negócios com indivíduos
estrangeiros ou os interesses americanos no exterior. Para John, o que motivava
grupos terroristas a atacarem americanos, sempre seria sua política ou sua
agenda social no exterior. Neste caso, o terrorismo internacional havia feitos
ataques duros, com perdas de vidas americanas em lugares como Dhahram, na
Arábia saudita, nas torres Khobar, e nos Estados Unidos, como o atentado ao
World Trade Center, em 1993, na cidade de Nova York. Desta forma, os atos do
terrorismo internacional passaram a acontecer dentro do território americano,
“em suas praias”, ao contrário da forma como o programa de contraterrorismo
havia se preparado, isto é, um ato de terrorismo doméstico, até então era
encarado como uma edição de ataques aos interesses americanos em Londres, por
exemplo.
Para um público altamente especializado
e cada vez mais interessado, John expôs que os atos do terrorismo haviam mudado
e que, embora eles dispusessem de várias ferramentas de combate, uma das mais
importantes seria a diplomacia. O governo americano utilizava seu Departamento
de Estado nas suas tentativas de diplomacia, pelo mundo, para fazer acordos,
tratados e convenções com muitos países, a fim de minimizar a possibilidade de
ataques terroristas. Mas existiam aqueles países com os quais não negociavam,
por tratar-se de nações visivelmente hostis ao povo americano. A estas nações,
a América, em conjunto com as Nações Unidas, exercia fortes sanções econômicas;
eram elas: Iraque e Líbia. No caso da Líbia, por sua alegada participação no
desastre do vôo 103 da Panam, e do ataque a uma discoteca em Berlim, onde estavam
soldados americanos. Por conta disto, além das sanções, o governo americano
utilizou ações militares secretas contra sua capital, Trípoli.
Para a nova modalidade de terrorismo
doméstico, O´Neill apresentava uma nova ferramenta de combate que era a união
do setor público com a sociedade civil para juntas, tentarem enfrentar a nova
ameaça. Ao governo caberia criar um órgão confidencial que receberia denúncias
da população, com relação a indivíduos suspeitos. Este órgão, em sigilo,
colheria informações a respeito dos indivíduos denunciados a fim de identificar
um provável grupo com intenções hostis. John insistiu na importância e na
necessidade do ativismo das comunidades, para ajudar a combater os atos
terroristas. Outro ponto para se prevenir de ataques seria um exame atento aos
lugares lógicos, onde os terroristas poderiam atacar. Um exemplo clássico seria
a própria Casa Branca. Um ataque a este tipo de lugar seria visto como um
incentivo a outras ações e isto exigiria uma resposta maciça, que traria sérias
conseqüências para o modo de vida americano.
Na visão de John P. O´Neill, o FBI era
uma agência de ligação para o terrorismo nos Estados Unidos e isto havia ficado
claro nos casos de Waco e Oklahoma. Desta forma, para um público atônito,
O´Neill pediu uma reflexão interna, por parte das autoridades presentes.
Contudo, o mais importante seria que todos olhassem para esta nova modalidade
de terror que havia chegado às praias americanas. Tratava-se de uma ameaça
significativa e muito particular, que poderia trazer tragédias maiores que a da
cidade de Oklahoma.
O´Neill explicou que, por ocasião do
atentado ao World Trade Center, em 1993, o FBI e a maioria da comunidade dos
serviços de inteligência, apostaram suas fichas nos estados que patrocinavam o
terrorismo, seriam eles: Irã, Iraque, Líbia, Síria e Sudão. Contudo, com o
avançar das investigações, dolorosamente, foram descobrindo um novo reinado de
terror, que crescia em belos lugares, em nações aparentemente amigas, mas que
possuíam algum tipo de extremismo religioso, como o Egito, o Paquistão, o
Kuwait e a Arábia Saudita. Os indivíduos que foram localizados, em muitos
casos, moviam-se com liberdade através de brechas nas leis americanas. Eram
guiados por uma Jihad (guerra santa), uma opinião que vai contra toda nação ou
estado democrático. Eles podem rápidamente formarem-se em grupos e, da mesma
forma, dispersarem-se. Haviam, neste
contexto, outros teatros desta guerra santa, como: Afeganistão, Sudão do
Sul, Argélia, que haviam estendido seus conflitos para países como a França, a
Bósnia, a Chechênia, a Caxemira e algumas áreas na América do Sul. Esta nova
visão se deu a partir do atentado ao WTC. Desta forma, O´Neill mostrava como as
coisas haviam mudado nos últimos anos. Nenhum Estado inteligente se disporia a
atacar uma nação com tamanha superioridade militar, como os Estados Unidos. A
única forma de causar algum dano a América, seria com atos terroristas em seu
próprio território.
Outro exame interior que O´Neill
solicitou foi o histórico, pelo qual, durante
centenas de anos, o extremismo radical ocidental levou as culturas
européias às cruzadas. Aliás, as cruzadas em si continuam sendo uma vertente
significativa para os movimentos extremistas islâmicos, justamente por terem
assassinado milhares de mulheres e crianças muçulmanas. Mesmo nos dias de hoje estes assassinatos continuam ocorrendo por parte do estado de Israel contra os palestinianos.
John P. O´Neill abordou a questão recente da invasão
soviética ao Afeganistão. Quando finalmente, depois de dez anos, as forças de
ocupação retiraram-se daquele país, os guerrilheiros das diversas nações árabes
acharam que se haviam conseguido vencer uma das mais poderosas forças militares
do mundo, não deveria ser impossível vencer o Estado sionista e seu maior
aliado; os Estados Unidos. Curiosamente, estes guerrilheiros haviam sido
treinados em insurgências e táticas de guerrilha, pelo próprio governo
americano e, após terem retornado para seus países de origem, estavam sendo
reconvocados por uma nova rede global de terrorismo, para uma nova Jihad.
Do Livro: O Longo Caminha até o 11 de Setembro.
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