Osama bin Laden emitiu uma Segunda
“fatwa” em 1998, conclamando ataques contra civis norte-americanos. Novamente
os Estados Unidos pediram ao Afeganistão a extradição de Laden. Diante da
negativa, como era de se esperar, espalharam cartazes de “procura-se” pelo
Oriente Médio e ofereceram uma recompensa de 5 milhões de dólares por sua
captura.
O governo americano ciente de que
deveria monitorar esta situação, lançou mão de novos recursos tecnológicos. Assim,
em 28 de fevereiro de 1998, o Drone Global Hawk, um veículo aéreo autônomo, de
Raytheon completa seu primeiro vôo sobre a base Edwards Air Force, na
California a uma altura de 9.600
metros que é a altura de cruzeiro dos aviões comerciais.
No mês de julho, em uma reunião secreta
em Kandahar, Afeganistão, de membros da coroa saudita e do Taleban, um acordo
de ajuda ficou estabelecido. Entre os presentes estavam o príncipe Turki
Al-Faizal Al-Saud, então diretor do Istakhbarat, Aziz Mahmoud Ahmad chefe do
serviço secreto do Paquistão, o ISI, bin Laden e Mohamed Omar, líder do
Taleban. O pacto estabelecia que bin Laden não usaria suas forças do
Afeganistão para subverter o governo saudita. Em troca, os sauditas concordavam
em assegurar que os pedidos para detenção de membros da Al-Qaeda e exigências
para fechar campos de treinamento afegãos, por parte de terceiros países, não
seriam atendidos. Para reforçar o acordo, os sauditas se comprometeram a
fornecer petróleo e ajuda financeira tanto para o Taleban, quanto para o
Paquistão. Ao grupo de Osama, seria fornecida uma quantia em torno de US$ 340
milhões.
O’Neill e sua equipe, aos poucos foram
delineando a imensa teia de terror. Descobriram que as organizações terroristas
são muito semelhantes às empresas modernas. Organizadas em células, essas redes
se mantém ligadas a uma matriz virtual e mutante, podendo estar, a qualquer
hora, em qualquer lugar do mundo. Seja nas montanhas do Afeganistão, ou em uma
grande metrópole ocidental. As operações são locais e autônomas. Possuem, em
sua grande maioria, independência para escolher os próprios alvos, arrecadar
fundos para estruturar suas ações e estão conectados ao alto comando, tanto por
mensagens criptografadas, transmitidas pela internet, quanto por meio de
recados pessoais. Podem ficar inativas por anos, estruturando-se de acordo com
a importância da ação. Os investigadores estimaram a existência de pelo menos
quatro mil colaboradores espalhados por cerca de 40 países, entre eles os Estados
Unidos. Determinaram, ainda, que Osama bin Laden, no topo das organizações, é
seguido por um conselho de três grandes divisões: finanças, religião e assuntos
militares. A rede é quase invisível, articulada, flexível, disseminada e
obstinada até a morte. O que garante muitas vantagens sobre a estabilidade, a
rotina e a visibilidade do alvo inimigo. A Al Qaeda conseguiu montar a sua teia
através de alianças ou parcerias, entre os vários movimentos extremistas
islâmicos ou separatistas como o Jihad egípcio e os curdos da Turquia. Entre os
membros do conselho consultivo, estão os representantes dos grupos extremistas.
Com essa estratégia, Laden ganhou o que precisava: legitimidade e abrangência
geográfica.
Neste ponto das investigações, um novo
nome começou a aparecer com muita freqüência, no círculo mais influente das
organizações: Ayman Al-Zawahiri. Egípcio, formado em medicina. Ele viria
a ser conhecido como o grande inspirador e mentor de Osama. Para O’Neill, ficou
claro que as células recebem um investimento inicial e daí para a frente, ela é
responsável para fazer crescer esse dinheiro, que financiará a concretização do
atentado. Em alguns casos, conforme os agentes puderam verificar, o resto da
quantia necessária ao funcionamento da célula, vem através de operações
fraudulentas com cartões de crédito, isto é, os terroristas especialistas,
utilizam alta tecnologia do mundo do crime organizado, compartilhando recursos,
tecnologia, capital e conhecimentos específicos. Isto significa que utilizam os
princípios da globalização, tal como Paul Wolfowitz descrevia em sua doutrina.
Existe ainda, a lavagem de dinheiro com envolvimento em negócios ilegais. Tais
como: contrabando de urânio enriquecido, venda de armas e ópio. Essas
atividades, mais o esquema de arrecadação de fundos entre simpatizantes do
extremismo islâmico, eram os principais sustentáculos da rede Al Qaeda. O que
mais impressionou os agentes foi o fato de que Laden jamais reivindicou a
autoria das brutalidades que levam a sua marca. Assassinou, massacrou e
amedrontou, mas se manteve nas sombras, renunciando ao narcisismo que costuma
caracterizar as ações terroristas. Esta era uma conduta que O’Neill acabaria
por compreender, à proporção que as investigações fossem avançando.
Durante algumas entrevistas concedidas à imprensa
inglêsa e a americana, Laden declarou: “A toda ação, corresponde uma forma de
reação.” “Os americanos nunca fizeram distinção entre civis e militares. Eles
não jogaram a bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki? Não apoiaram os
massacres de crianças e adolescentes, na Palestina?”
Do Livro: O Longo Caminho até o 11 de Setembro.
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