Na manhã fria de 26 de fevereiro de
1993, na cidade industrial de Paterson, no Estado de Nova Jersey, Ramzi Yousef
ajeitou, com extremo cuidado, um botijão de plástico azul, do tamanho de um
barril de chope, no compartimento de carga da caminhonete. Esta seria a última
peça de um carregamento mortífero que incluía uma bomba caseira, à base de
nitrato de amônia, com mais de 700 quilos. Horas depois, Ramzi, Abdul Rahman
Said Yasin, da cidade de Bloomington, Indiana, e Eyad Ismail, um palestino, que
era o condutor da caminhonete, seguiram até a garagem subterrânea de uma das
torres do World Trade Center. Seguindo as coordenadas recebidas por Rahman, o
veículo tinha que ser deixado na seção do Serviço Secreto de Nova York. Poucos
minutos após terem abandonado o caminhão, o mecanismo de detonação foi ativado.
A explosão que se seguiu, provocou a morte de seis pessoas e ferimentos em
outras mil, gerando assim, um número maior de feridos hospitalizados do que
qualquer outro evento na história americana, desde a Guerra Civil. Yousef tinha
procurado causar o colapso da Torre dois de tal maneira que ela caísse sobre a
outra torre, o que causaria a morte de dezenas de milhares de pessoas, além de
demolir todo o complexo. Contudo, embora poderosa, a explosão não atingiu o
objetivo. Este não foi apenas o primeiro atentado de radicais islâmicos contra
o WTC, mas também a primeira vez que uma arma química de destruição massiva era
empregada contra um alvo em território americano. É que dentro do tonel de
plástico estavam estocados cerca de 50 quilos de cianeto (o sal do ácido
cianídrico), que, se ganhassem a atmosfera da zona sul de Manhattan, poderiam
ter matado muito mais pessoas ainda. Essa tragédia somente não aconteceu porque
o arremedo da bomba química era muito rústico e o cianeto queimou todo na
explosão.
A caminhonete explodiu na rampa de
acesso do segundo piso de uma garagem subterrânea de seis níveis, sob a torre
dois, abriu uma cratera de 30
metros de diâmetro e cerca de 60 de profundidade,
provocando ainda dois incêndios nas imediações. O teto da estação do metrô, que
ficava sob as duas torres do complexo, desabou.
Os transtornos foram de tal magnitude
que, todo o bairro foi paralisado, houve interrupção nas linhas do metrô, no
sentido Nova Jersey e levou pânico aos funcionários do WTC e moradores da
região.
Os funcionários que trabalhavam na
parte mais alta das torres de 110 andares levaram mais de duas horas para
chegar até o térreo, pelas escadas. A maioria completamente extenuada. Parte
deles foi resgatada do terraço dos edifícios, por helicópteros. Com a explosão,
algumas das estações de TV de Nova York, que tinham antenas no topo das torres,
saíram do ar.
Os planos de emergência, para retirada
das pessoas, se tornaram inúteis porque a bomba devastou os centros de comando
policial e de operações do prédio.
Durante a noite daquele mesmo dia, o
presidente Bill Clinton, conversou por telefone com o governador de Nova York,
Mário Cuomo, e o prefeito da cidade, David Dinkias, que cancelou o resto dos
compromissos de uma visita que fazia ao Japão e embarcou de volta a Nova York.
“As autoridades de Nova York têm razões para acreditar que foi um atentado a
bomba”, disse o secretário de imprensa da Casa Branca, Dee Dee Myers.
Afora a notoriedade do local escolhido
para o atentado, a outra indicação sobre a possível natureza política da ação
foi que a explosão aconteceu na seção do WTC onde estão a garagem do Hotel
Vista e, ao lado, a garagem do Serviço Secreto de Nova York, que abriga cerca
de cem automóveis e alguns veículos blindados. O Serviço Secreto, uma agência
do Departamento do Tesouro, é responsável pela segurança da Casa Branca e a
proteção do presidente, dos membros do gabinete e de dignatários estrangeiros
em visita aos EUA. Um porta-voz do serviço informou que três agentes ficaram
feridos. Nenhuma informação foi fornecida sobre danos materiais na seção da
garagem ocupada pela agência federal.
Agentes do BATF (Bureau of Alcohol,
Tabacco and Firearms) e especialistas das unidades de explosivo e antiterrorismo
do FBI, começaram a vasculhar os escombros, naquela mesma noite, em busca de
fragmentos de um provável carro bomba.
Em Washington, no dia seguinte a
explosão no WTC, os aeroportos e os principais prédios públicos e monumentos da
capital, assim como os grandes edifícios das metrópoles americanas, amanheceram
com a segurança reforçada.
John C. Killorin, porta-voz do BATF,
que foi encarregada de determinar a causa da explosão, disse: “Não temos ainda
a prova de que foi uma bomba, mas estamos investigando como se fosse.”
Autoridades federais e da polícia de Nova York tabularam, pelo menos, nove
chamadas telefônicas reivindicando a responsabilidade pelo atentado na primeira
hora após a explosão. Numa delas, a pessoa que chamou, identificou-se como
porta-voz de uma “Frente de Libertação da Sérvia”, desconhecida do governo
americano. Entrevistados em programas de televisão, especialistas em
antiterrorismo listaram também, entre os suspeitos, os grupos do Oriente Médio
e o narcotráfico.
O fato de terem escolhido o World Trade
Center como alvo, mostrava, logo no início das investigações, que os
responsáveis, além do desejo de provocar uma tragédia de proporções
gigantescas, também tinham o objetivo de intimidar as autoridades e o público
exibindo sua capacidade de agir e propagar o pânico numa das estruturas mais
famosas e movimentadas do mundo. Calcula-se que pelo menos, 50 mil pessoas
trabalhavam nas duas torres do WTC, e que estavam em seus escritórios no
momento da explosão. Considerando as circunstâncias, é notável que não tenha
havido pânico e um massacre durante a operação de evacuação dos prédios, o que
levou, no total, mais de seis horas. Apesar do número relativamente baixo de
mortos e da pouca severidade dos ferimentos, de uma forma geral, o que aconteceu
no WTC chocou os Estados Unidos e colocou as autoridades frente a uma ameaça.
Embora o governo dos EUA, os cidadãos e empresas do país sejam alvos
preferenciais e freqüentes de atentados terroristas ao redor do mundo, este não
era um problema que as autoridades e o público americanos estivessem
acostumados a enfrentar em
casa. A última ação de terrorismo político nos EUA foi um
atentado à bomba em Washington, em setembro de 1976, que matou o ex-chanceler
chileno Orlando Letelier.
Do livro: "O Longo Caminho até o 11 de setembro."
Nenhum comentário:
Postar um comentário