Poucos norte americanos apreciam seu
governo tanto quanto Coleen Rowley amava o FBI. Ela sonhava em ser agente,
desde que cursava Direito na Universidade de Iowa. Quando se formou, em 1980,
se apresentou, por conta própria e foi contratada como agente especial.
Estava orgulhosa de fazer parte da
primeira turma de mulheres que lutavam para que fossem levadas a sério na
cultura tradicional e masculina que imperava no FBI. Foi galgando cargos como
advogada do órgão, até acumular, nos anos 90 o trabalho de advogada-chefe com o
de porta-voz da sede, em
Minneápolis. Apesar do estresse e do risco, Rowley, que tem
quatro filhos e vive em uma casa no subúrbio, nunca trabalhou em outro lugar.
Ela é quem sustenta a família, com fôlego.
Na noite de 15 de agosto, Rowley foi
chamada por seus colegas agentes. É que os instrutores da escola de aviação
haviam telefonado, no dia anterior ao FBI para informar sobre um aluno que
falava mal o inglês e que havia pedido para que lhe ensinassem a pilotar um
Boeing 747. Os agentes federais chegaram ao hotel de Zacarias Moussaoui no
mesmo dia e pediram seus papéis. Quando os documentos demonstraram que o visto
poderia ser falso, foi prêso.
Com Moussaoui detido, os agentes começaram a procurar
informações. Descobriram que, no fim dos anos 90, a polícia francesa o
havia incluído na lista de vigilância e que, utilizando Londres como base,
havia viajado várias vezes ao Kuwait, à Turquia e a países da Europa,
estabelecendo vínculos com grupos islâmicos radicais e recrutando jovens para
lutar na guerra da Chechênia contra a Rússia. Os agentes do serviço secreto
francês suspeitaram também, que havia passado uma temporada no Afeganistão e
que seu último destino, antes dos Estados Unidos,
havia sido o Paquistão. Todas estas informações foram dadas ao FBI para que
Moussaoui fosse investigado de todas as maneiras possíveis.
Durante os interrogatórios de
Moussaoui, os agentes obtiveram a informação de que ele pretendia treinar em um
simulador de vôo, o trajeto do aeroporto de Heathrow, em Londres, até o
aeroporto de Kennedy, em
Nova York , no comando de um Boeing 747. Por diversas vezes,
os agentes pressionaram-no para que revelasse que estava preparando uma ação
terrorista. Moussaoui nada revelou. Apenas seguiu insistindo que não fizera
nada contra a lei.
Em Minneápolis, poucos dias depois de
receber o documento do serviço secreto francês, os agentes começaram a se
desesperar e insistiam em examinar o computador portátil de Moussaoui, que fôra
apreendido. Foi a primeira série de obstáculos impostos pelos superiores de
Washington. Minneápolis queria obter uma ordem de registro para examinar o
computador, mas, por lei, o FBI tinha de demonstrar que Moussaoui era agente de
um grupo terrorista. Apesar de todas as informações, oriundas das fontes
francesas, que relacionavam Zacarias com atividades vinculadas a bin Laden. Os
superiores do FBI consideraram as provas insuficientes e rejeitaram os esforços
de Minneápolis para examinar o computador. Tratava-se de um grupo de
funcionários do médio escalão que, inexplicavelmente, bloqueou os esforços já
desesperados dos agentes para obter uma ordem de registro. Um desses
funcionários era o supervisor agente especial Dave Frasca, da Unidade de
Fundamentalismo Radical (RFU), o mesmo que, além de reter o memorando de
Kenneth Williams, havia decidido não averiguar as recomendações especificadas
no mesmo. Ficou encarregado, também, de avaliar os pedidos do escritório dos
agentes de campo, de Minneápolis. Ele alegava que poderia haver muitíssimos
Zacarias Moussaoui na França. Os agentes então procuraram na lista telefônica
de Paris e encontraram somente um Moussaoui. Em outro momento, o escritório
tentou esquivar os superiores e alertar o Centro Contra o Terrorismo da CIA.
Por conta disto, foram repreendidos e até castigados por seus superiores.
No final de agosto, Rowley enviou a
solicitação da ordem de registro aos advogados da Unidade Legal de Segurança
Nacional. Entretanto, o mesmo supervisor voltou a criar obstáculos,
deliberadamente para a solicitação, retendo informação que prometeu acrescentar
e fazendo várias mudanças no documento. Em 28 de agosto, a Unidade Legal
recusou a solicitação de Minnesota.
Se tivessem conseguido a ordem de
registro, teriam descoberto no interior do computador, informações sobre
fumegações aéreas, uma carta, de um agente da Al-Qaeda na Malásia dirigida ao
marroquino, um caderno que continha um apelido que correspondia ao companheiro
de quarto de Mohamed Atta. Com tudo isso contra, Rowley e os agentes acabaram
descobrindo que Moussaoui recebia dinheiro, que era enviado por bin Al-Shibh,
do Paquistão. Com este dinheiro, o marroquino pagava as suas despesas. Bin
Al-Shibh seria o piloto da equipe de Ziad Jarrah, mas que, embora tenha tentado
visto para os EUA por quatro vezes, não conseguira. Ele permaneceu em Hamburgo
até pouco tempo antes do mês de setembro, quando recebeu ordens para seguir
para o Afeganistão e, de lá para Karachi, no Paquistão. Lá, ele deveria ficar
escondido e não poderia falar sobre os ataques com ninguém, sob pena de ser
prêso.
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